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MULHERES OCUPAM MENOS DA METADE DOS CARGOS DE LIDERANÇA NO BRASIL

João Paulo - 11/03/2024 13:30 - Atualizado 11/03/2024

Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 71% das posições de decisão, no mercado brasileiro é ocupado por homens. “Imagina o que é você crescer ouvindo que não pode nada: ‘aquilo não é adequado a você’, ‘pega mal para uma garota’, ‘eu sou mais ágil’, ‘isso não para mulheres’. Aí, você cresce e leva seus traumas para a vida adulta”, ilustra psicóloga especialista em saúde mental para mulheres e mestre em carreiras, Lúcia Pitombo.

“Ao chegar no mercado de trabalho, olha ao redor, e enxerga que as pessoas que estão acima de você são todas do sexo masculino. Não há um espelho. Como se imaginar ocupando esse espaço? O resultado é a autossabotagem e negação de que também capaz de chegar ao topo”, completa a especialista. De acordo com o Panorama Mulheres 2023, uma pesquisa realizada pelo Talenses Group em parceria com o Insper, a representação feminina na presidência das empresas e em outras posições de liderança no Brasil aumentou. Se em 2019, elas eram 13% de todos os CEOs do país, em 2022, elas se tornaram 17% de total de pessoas ocupando o cargo de executivo-chefe.

“Não há o que comemorar se as mulheres não são nem a metade. Isso não quer dizer que elas não têm excelentes currículos, experiência e talento suficiente para estar à frente de equipes e tomadas de decisões. Pelo contrário, o que há aqui são barreiras estruturais que impedem o sexo feminino de estar sempre um passo à frente deles”, avalia a socióloga e pesquisadora na área de relações de gênero, Carla Tomásio. Se para as mulheres já é difícil estar em posições de poder, quando o recorte é recorte interseccional, a situação no Brasil é ainda pior. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que menos de 3% de mulheres negras alcançam cargos de diretoria ou gerência no Brasil.

“O racismo estrutural, naturalmente, limita as oportunidades de emprego e avanço na carreira para o povo preto. A mulher preta, portanto, precisa, além de ultrapassar as barreiras do racismo, desviar da opressão interseccional. Se não confiam em uma mulher, o quão vão confiar que uma mulher negra pode estar à frente de um grande negócio?”, questiona a antropóloga especialista em Antropologia Social, Samara Silva. Na avaliação de Claudia Elisa Soares, especialista em ESG e na transformação de negócios, disparidade de mulheres em cargos de liderança é um problema complexo que não pode ser resolvido rapidamente ou por meio de uma solução única.

Ela argumenta que devido à natureza social, cultural e histórica dessas disparidades, é necessário adotar abordagens abrangentes e a longo prazo para enfrentá-las. “Isso inclui políticas de recrutamento inclusivas, programas de desenvolvimento de liderança para mulheres e uma cultura organizacional que valorize a diversidade, em toda sua extensão, de forma sólida”, diz Claudia. “Também é crucial enfrentar os preconceitos que influenciam as decisões de contratação, promoção e remuneração. A conscientização e educação sobre a diversidade são essenciais para superar estereótipos arraigados e criar um ambiente de trabalho mais inclusivo”, completa.

Andréia Rengel é a CEO da AMcom, empresa de tecnologia que desenvolve soluções personalizadas com foco em Data Analytics e Inteligência Artificial. Quando entrou na empresa, há 17 anos, o negócio era de pequeno porte e contava com 20 funcionários. Hoje, ela lidera mais de 500 colaboradores. “Me sinto honrada por estar em um cargo de liderança em uma empresa tech, que culturalmente, ainda é um segmento predominantemente masculino. Acredito que temos o poder de inspirar e apoiar outras mulheres para que elas também sejam protagonistas das suas carreiras e possam ocupar cargos de alto nível em suas organizações. Precisamos buscar cada vez mais essa igualdade, para construirmos um mundo ainda melhor para as próximas gerações”, diz Andréia.

“Uma liderança feminina tem sensibilidade, intuição e emoção. Essas são características que alimentam relações – e liderança é sobre relações. Você só lidera quem você envolve, conquista e motiva. Ter uma líder mulher na direção de uma empresa, de um time ou na condução de um projeto carrega habilidades e vantagens que vão desde a resolução de conflitos na gestão de crises a insights intuitivos para decisões mais equilibradas”, emenda a CEO.

Foto: Imagem de Ronald Carreño por Pixabay

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