O ex-presidente Jair Bolsonaro realizou uma manifestação de porte neste domingo (25) na Av. Paulista, em São Paulo. O mote da convocação foi a defesa do ex-presidente, que é alvo de uma série de processos que o acusam, entre outras coisas, de tentativa de golpe de estado e de abulição violenta do estado democrático de direito.
A manifestação mostrou que Bolsonaro ainda detém força política expressiva, não tanto pelo número de pessoas presentes, afinal com apoio das redes sociais, do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas e de outros governadores, das caravanas vindas de outros estados e do recall das eleições polarizadas de 2022, não seria difícil reunir a multidão.
A força política de Bolsonaro, assim como a de Lula, ainda está estacionada na polarização que divide o país e que coloca em lados oposto e incondicionalmente cerca de 25% da população que apoia o ex-capitão e outros 25% que apoiam o Presidente Lula. E isso incondicionalmente, ou seja, não importa o que cada um faça, não importa do que são investigados, não importa a qualidade do governo que exerceram, pois 25% da população apoia de forma acrítica um ou outro.
O problema, e aí entra a beleza da democracia, é que a maioria silenciosa, os 50% da população, que não tem cabresto, é quem decide as eleições.
Com a polarização em curso, tanto Bolsonaro quanto Lula têm capacidade de colocar milhões de pessoas na rua. O ato em defesa de Bolsonaro foi para mostrar a força do ex-presidente e para tentar impedir que ele seja preso e reuniu um público, estimado entre 600 mil a 750 mil pela Polícia Militar, na Av. Paulista, em São Paulo. Em 13 de outubro de 2019, Lula já estava preso, mas o ato “Justiça para Lula” reuniu milhares de pessoas na mesma Av. Paulista. Em tempos de polarização, políticos como Lula e Bolsonaro levam milhares de pessoas às ruas. Na verdade, mais que tudo, a manifestação deste domingo em São Paulo mostrou que o Brasil permanece polarizado e que as eleições para prefeito em 2024 e para presidente e governadores em 2026 se darão sob esse signo.
Mas qual o efeito dessa manifestação expressiva para Jair Bolsonaro? Em primeiro lugar, o ex-presidente mostra força política, afinal conseguiu reunir quatro governadores, mais de uma dezena de senadores e uma centena de deputados. Mas, atenção, essa força política está vinculada aos interesses eleitorais de cada grupo, que pretendem absorver a força eleitoral de Bolsonaro em proveito próprio. E isso é tão nítido que Bolsonaro não tem força no Congresso Nacional para aprovar qualquer coisa, seja uma anistia como ele pediu, seja o impeachment de Lula ou de Alexandre de Moraes. Aliás, não vamos esquecer que Arthur Lira, que tanto tempo esteve ao seu lado, hoje troca juras de amor com o Presidente Lula.
Na manifestação, Bolsonaro também se mostrou light. É um outro Bolsonaro, pregando a pacificação e que se passe uma borracha no passado: “ O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar uma maneira de continuarmos em paz. Não continuarmos sobressaltados”, disse ele.
É um Bolsonaro assustado, acuado e pedindo o fim dos sobressaltos, quando sobressaltos era o que mais havia no seu governo. É um Bolsonaro light, porque sabe que a força política demonstrada nas ruas não vai parar a Justiça, não vai parar os inquéritos e os processos que correm, indicando que mais cedo ou mais tarde ele será preso. Ou seja, a política em tempos de extrema polarização passa pela cadeia. (EP – 26/02/2024)
Miguel Schincariol/ AFP)