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ARMANDO AVENA – DEPOIS DA FOLIA, A ECONOMIA

Redação - 15/02/2024 10:59 - Atualizado 18/02/2024

Acabou o carnaval e é hora de ver como estará a economia em 2024. Desde o ano passado, as previsões do mercado são de desaceleração da economia e, na mediana das estimativas coletadas pelo Banco Central, o PIB terá alta de 1,6% em 2024. É uma previsão pessimista, pois o PIB cresceu 3% o ano passado, mas os analistas justificam o pessimismo reiterando que “os efeitos contracionistas das altas taxas de juros, a menor expansão  dos programas sociais e do consumo das famílias e uma piora nos resultados da agropecuária” reduziriam o crescimento da economia. Além disso, destacam a questão fiscal e o aumento da dívida interna.

Estimativas de mercado geralmente erram. Em 2023, por exemplo, a economia cresceu três vezes mais que as estimativas. E este ano, a economia parece não estar dando bola para a previsão de um crescimento tão baixo. Senão vejamos.

Os efeitos contracionistas das taxas de juros altas serão muito menores do que no ano passado, quando os juros estavam num patamar de 13,75% e só começaram a cair em agosto. Em 2024, a taxa Selic começa em um patamar de 11,25% e com a ata do Banco Central afirmando que haverá nos próximos meses quedas sucessivas de 0,5% ao mês. Ora, este é um cenário muito mais propício ao crescimento econômico, afinal haverá crédito mais barato para investimento e consumo e, se tudo correr bem, chegaremos ao final do ano com uma taxa de juros real da ordem de 4% a 4,5%, o que vai estimular o setor imobiliário e o crédito ao consumidor, com efeitos positivos na construção civil e no comércio.  Ou seja, mantida a tendência de decréscimo da taxa de juros, ao invés de desaceleração o que ocorrerá será o estímulo ao consumo e ao investimento e uma maior disponibilidade de crédito mais barato em toda a economia. Aqui  entra um condicionante: a reoneração da folha de pagamento, que pode causar problemas em setores intensivos em mão-de-obra, sendo necessário, portanto, uma solução não onerosa por parte do governo.

Um outro sinal de que a economia deve crescer mais é a taxa de desemprego que fechou em 2023 em 7,8%,  o menor patamar registrado desde 2014 e uma queda de 10%  em relação a dezembro de 2022. E agregue-se a isso  o aumento de 7% no rendimento real do trabalhador. Ora, mesmo que não haja expansão dos programas sociais, sua manutenção está prevista no orçamento e o aumento do emprego e da renda também vão contribuir para um crescimento acima das previsões. Em relação à agropecuária, é certo que não será fácil superar a safra recorde de 2023, mas ainda é cedo para fazer previsões nesta área. Por fim, surge a questão fiscal que representa o calcanhar de Aquiles da atual política econômica. E será muito difícil para o governo alcançar o déficit zero previsto no orçamento e em algum momento haverá a mudança da meta. Mas aqui cabe uma ressalva: a piora fiscal não afeta diretamente o crescimento anual do PIB, ela tem efeito no longo prazo, mas conjunturalmente, ou enquanto o governo tiver crédito no mercado para financiar o déficit, o PIB pode continuar crescendo. Quem determina esse limite é a relação dívida/ PIB que cresceu 0,3% em relação a 2022, ficando em 74,7% do PIB. Esse percentual ainda não compromete as contas públicas – na Índia o indicador está em 86,5%, na zona do Euro em 90%, nos Estados Unidos em 128% e no Japão em mais de 200% – , mas precisa ser reduzido gradualmente, pois o Brasil não pode ter dívida  excessivamente alta como os países desenvolvidos. Em resumo: se nada de grave acontecer na economia e apesar de alguns condicionantes, o PIB brasileiro deve crescer em cerca de 2,5% ou mais em 2024 e os resultados do 1º trimestre já apontam nessa direção.

                                    A INDÚSTRIA EM 2023

A produção industrial baiana registrou queda de 1,8% em 2023 em relação a igual período do ano anterior. Isso aconteceu porque a produção industrial baiana é quase que inteiramente de comodities, completamente dependente do mercado internacional: produção de óleos brutos de petróleo, celulose, petroquímica e derivados de petróleo e por aí vai.  E tem forte participação da produção de óleo combustível, que caiu este ano por causa dos preços internacionais. A indústria baiana precisa se diversificar. A BYD é um bom começo mas precisa mais.

 

Publicado no jornal A Tarde em 15/02/2024

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