O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), proferiu nesta segunda-feira o seu discurso mais duro em cerimônia de abertura do ano Legislativo, em pronunciamento cheio de recados ao governo. Historicamente, a solenidade dá aos presidentes das Casas a oportunidade de fazer um balanço das atividades do ano precedente, além de servir como marco de divulgação da agenda própria dos congressistas. Em ocasiões anteriores, houve recados ao Executivo, justamente para reforçar a independência do Poder. Mas essas mensagens costumam ser mais sutis.
Em plenário, Lira cobrou o cumprimento de acordos firmados, disse que “errará” quem apostar na inércia da Casa por causa das eleições municipais e elevou a tensão na queda de braço pelo controle das contas públicas ao dizer que a peça orçamentária “pertence a todos e não apenas ao Executivo”. Em fevereiro de 2022, coube ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), exercer o papel de crítico ao governo. Em meio à elevação das tensões com os ataques de bolsonaristas ao processo eleitoral, pediu que a vontade das urnas fosse respeitada, em pleito que ocorreria em outubro. Além disso, condenou a disseminação de fake news. Já Lira pediu união para a aprovação de reformas. — As disputas e tensionamentos devem ficar para o momento de campanha. Agora, o momento é de união e diálogo porque o Brasil tem pressa — disse Lira, em discurso ameno.
No ano passado, Lira optou por encampar uma mensagem mais enfática com foco na defesa da democracia e na independência entre os Poderes, além de recados direcionados ao Judiciário. Também recriminou veementemente os atos golpistas ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro, protagonizados justamente por apoiadores de Jair Bolsonaro, um aliado político à época. — Esta Casa não acolherá, defenderá ou referendará nenhum ato, discurso ou manifestação que atente contra a democracia. Quem assim atuar, terá a repulsa deste Parlamento, a rejeição do povo brasileiro e os rigores da lei.
Em 2021, Lira fazia cobranças para o acesso à vacina — a primeira dose ofertada no país foi aplicada pelo governo de SP, enquanto o Executivo federal ainda patinava nas aquisições. — Precisamos fazer o que estiver ao nosso alcance para facilitar a oferta de vacinas para os mais vulneráveis neste momento mais dramático, sempre obedecendo aos mais rigorosos padrões sanitários e sem colocar em risco a vida das pessoas — disse. Em março daquele ano, com a evolução da crise da pandemia, Lira fez o discurso mais duro contra o Executivo em todo o seu período à frente da Casa, momento em que ameaçou apertar o “botão amarelo”, uma referência ao possível impeachment de Bolsonaro.
Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo