O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou pela quinta vez consecutiva a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, em 0,5 ponto percentual, chegado ao patamar de 11,25% ao ano. Principal instrumento para controlar a inflação, a Selic impacta desde o custo de empréstimos até o retorno de alguns tipos de investimento. O Tesouro Selic, por exemplo, tem rentabilidade diretamente ligada à taxa. Com a redução de juros no país, esse tipo de investimento pós-fixado passará a ter um retorno menor. Mesmo assim, segundo analistas, continua sendo interessante porque a taxa se mantém em dois dígitos, bem acima da inflação. Como a expectativa é de que novos cortes aconteçam nas próximas reuniões, especialistas recomendam principalmente a alocação de recursos em ativos indexados à inflação (IPCA) para proteger o capital.
Onde alocar os recursos?
Indexados à inflação – O mais recente Boletim Focus, divulgado na última terça-feira, projeta que a Taxa Selic deve terminar o ano em 9%. Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, diz que ainda há muitas oportunidades na renda fixa e recomenda especialmente papéis atrelados ao IPCA, que pagam 5,5% de juro real ou mais. — A gente tem privilegiado títulos indexados à inflação. Acreditamos que Banco Central vai tentar reduzir a Selic nos próximos anos. Ativos ligados à taxa vão pagar rendimentos menores, enquanto títulos indexados á inflação protegem os investidores em qualquer cenário.
Crédito privado – Camilla ainda aponta que o ciclo de queda da taxa Selic favorece ativos mais arriscados, que fornecem mais oportunidades de ganhos. Nesse sentido, pode ser interessante aplicar em títulos de crédito privado, como debêntures (título de dívida), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Antes, porém, ela alerta que é necessário verificar se esses investimentos estão de acordo com o perfil do investidor, já que não contam com cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Ou seja, caso a empresa emissora do papel quebre e não consiga pagar, não há como o investidor ser ressarcido.
Bruno Komura, da Potenza Capital, também avalia que o crédito privado pode ser vantajoso neste momento: — Os bancos ainda estão muito cautelosos com crédito. Ao mesmo tempo, há muitas empresas precisando rolar a dívida e, por isso, acabam oferecendo boa rentabilidade.
Pós-fixados – Investimentos pós-fixados não devem ser abandonados, diz o assessor da RJ+Investimentos Bruno Monsanto. Na hora de escolher o ativo, no entanto, é importante observar a taxa de retorno oferecida. — A dica é dar preferência aos títulos que pagam CDI+ X% em vez dos que pagam apenas algum percentual do CDI. Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Se hoje você compra um CDB que paga 115% CDI, com a queda dos juros o rendimento desse título vai cair na mesma proporção — explica. E acrescenta — Com o CDI a 8,5%, esse título vai entregar 9,78%. Já um título que paga, por exemplo, CDI+1,5%, com o CDI a 8,5%, vai entregar 10%. E quanto mais os juros caírem, maior fica essa diferença.
Monsanto acrescenta que é necessário calcular o efeito de impostos em taxas brutas antes de decidir onde aplicar. A comparação entre taxas líquidas é a mais indicada para entender o que, de fato, é vantajoso.
Prefixados – Analistas avaliam que a janela de oportunidade para aplicar em títulos prefixados já se encerrou e que ativos que pagam menos de 11% ao ano não valem a pena. Atualmente, o Tesouro Prefixado 2026 oferece rentabilidade anual de 9,63%, enquanto o prefixado em 2029 paga 10,32%. Esse tipo de investimento é considerado mais arriscado porque determina um retorno fixo. Assim, se a Selic voltar a subir antes do vencimento e ultrapassar o rendimento contratado, o investidor fica em desvantagem. — Para que os investidores obtenham lucros expressivos com ágios nesses ativos seria necessária uma queda mais acentuada nas taxas de juros brasileiras — comenta Gabriel Redivo, Diretor de Gestão da Aware Investments.
Foto: Pexels