Depois de anos crescendo acima de dois dígitos, o varejo farmacêutico brasileiro teve um ano de 2023 desafiador, com o mercado não atingindo o crescimento esperado. Isso acaba despertando muitos questionamentos sobre os rumos futuros. Contudo, é importante salientar que ainda assim, o ano foi de muitos aprendizados e de descobertas de novas tendências no setor.
Após um crescimento entre 2021 e 2022, impulsionado principalmente pela pandemia, que resultou em aumentos de dois dígitos, o ano de 2023 se mostrou desafiador em termos de crescimento, mais especificamente o segundo semestre, ficando aquém das expectativas. Segundo dados da IQVIA referente ao mês de novembro, o crescimento anual do setor foi de 8,67%, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
“Apesar de não ter ultrapassado dois dígitos, o crescimento é considerável. Encerramos o ano com um crescimento alto, superando o PIB e outras métricas que analisam o mercado nacional. Esta análise concentra-se no mercado farmacêutico em geral; contudo, na Febrafar, observamos um crescimento 40% acima da média do mercado, evidenciando uma performance sólida mesmo diante dos desafios”, explica o presidente da federação de redes associativas de farmácias, Edison Tamascia.
Ao concluir o ciclo de 2023, fica evidente que o ano teve um desempenho positivo, mas alguns subcanais enfrentaram desafios significativos. Por exemplo, o setor independente registrou crescimento, porém muito abaixo da média do mercado, assim como as redes regionais.
“O ano foi marcado também por recuperações judiciais, especialmente no varejo e na distribuição, indicando que empresas com dívidas elevadas e sustentadas por altas taxas de juros enfrentaram dificuldades. Esse cenário é preocupante, pois sugere que o setor está enfrentando certas dificuldades”, explica Edison Tamascia.
Já para 2024, segundo o presidente da Febrafar, a previsão é de um cenário de estabilidade, sem um crescimento expressivo acima da média deste ano. É importante ressaltar que se espera que os aumentos de preço dos medicamentos sejam menores em comparação com 2023, o que representa um desafio considerável.
“Além disso, estamos passando por uma significativa transformação no comportamento do consumidor, nos meios e formas de compra e na concorrência, impulsionada por um processo acelerado de digitalização. Nesse ponto, observa-se que apenas alguns grupos conseguem aderir a essa transformação. Sendo que parte do varejo, mesmo que quisesse, não tem disponibilidade de ferramentas e sistemas, e quando encontram são inacessíveis no ponto de vista de preço”, explica.
Dessa maneira, atualmente se observa um mercado segmentado: de um lado, teremos empresas que se destaca em função da tecnologia e de compreender a importância e usabilidade dessas ferramentas; do outro lado, fica as empresas que, apesar de identificarem a importância, não possuem a estrutura e conhecimento necessários para utilizar os recursos tecnológicos a favor do seu negócio.
Um fato relevante no mercado farmacêutico é a sua total auditabilidade, facilitando as tomadas de decisões, desde que haja acesso às informações necessárias. Também se observa uma tendência de as farmácias aumentarem seus espaços físicos, visando aumentar a oferta de produtos não medicamentos, em busca de aumentar sua lucratividade.
“A venda desses produtos, especialmente dos setores de perfumaria, higiene, beleza e dermocosméticos, está se tornando cada vez mais relevante. Algumas farmácias estão ampliando o espaço das lojas e diversificando o mix de produtos, incluindo itens de conveniência, dessa forma, antecipando uma tendência de mercado”, explica Edison Tamascia.
Diante de todas essas transformações, o presidente da Febrafar explica que surge uma grande oportunidade de crescimento para o associativismo, principalmente no mercado independente, que tem nesse modelo um caminho para se estruturar. Mas, como sempre afirmo, os desafios não serão maiores nem menores no próximo ano, apenas serão diferentes. E isso reforça a necessidade do pensamento coletivo para potencializar as conquistas.
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