A Bolsa de Valores brasileira bateu recorde após recorde de pontuação em dezembro e fechou 2023 em alta de 22,28%. Mas este cenário vai se repetir em 2024? Aplicar em renda variável continuará a ser uma boa opção? O que preveem os analistas?
Para Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo Corretora, 2024 será um ano de conjuntura global mais favorável, o que tende a trazer ganhos para a Bolsa. “Depois de pandemia, com a reabertura da economia, houve uma alta da inflação global, sem contar a guerra na Ucrânia. A perspectiva para 2024 é de uma acomodação da atividade com queda de inflação, que vai permitir ao Fed (banco central americano) cortar juros. Nessas condições, a gente imagina que vai ter um fluxo de capitais muito forte para mercados emergentes, e o Brasil é um dos principais beneficiários”, avalia em entrevista ao Jornal Extra.
Mathias aposta que o índice encerre 2024 em torno de 155 mil pontos, sendo parte expressiva dessa alta reservada para o primeiro trimestre. Phil Soares, chefe de ações da Órama, também acredita que a queda de juros esperada no próximo ano possa ajudar o ganho da Bolsa, embora “parte desse movimento já esteja precificado”.
Em sua visão, os setores que mais devem se beneficiar são os ligados à economia doméstica, como varejo, consumo, saúde e construção civil. — No setor de varejo, por enquanto, quem tende a ir melhor são as empresas que têm como público-alvo consumidores de tíquete alto, como Arezzo e Vivara. No nicho de alimentos, Assaí (ou seja, negociado abaixo do preço que seria adequado) está bem descontado e deve ir bem — avalia.
Para Leonardo Piovesan, analista da Quantzed, as ações de commodities tendem a não apresentar altas tão expressivas no próximo ano. Em seus cálculos, a Petrobras já está com valor de mercado próximo ao de petroleiras globais devido ao seu forte desempenho em 2023. Enquanto as ações ordinárias da estatal somaram 90% de ganhos, as preferenciais dobraram de valor. — As ações foram impulsionadas pelos pagamentos de dividendos, principalmente os extraordinários, que não estavam na conta do mercado, por assim dizer. Eu vejo uma Petrobras mais focada em investimento e menos no pagamento de dividendos, o que sinaliza um possível risco para a valorização das ações — afirma, acrescentando: — E os pagamentos extraordinários de dividendos devem ficar mais difíceis de acontecer. Não dá para esperar que os mesmos pagamentos que foram feitos nos últimos dois anos vão acontecer para frente.
Embora aponte que o desempenho de Vale dependa das negociações de minério de ferro no exterior, Piovesan vê a companhia como uma “ação defensiva para se ter em uma carteira com maior exposição em mercado interno”. — É uma ação que segue sendo atrativa do ponto de vista de dividendos. Ainda mais agora nesse cenário de queda de juros, essas empresas que pagam dividendos altos começam a ser mais atrativas — projeta.
Os fundos multimercados, por contarem com gestão de especialista e serem mais amplos e flexíveis, podem render bons frutos depois de um ano desafiador, segundo Jaqueline Kist, sócia da Matriz Capital: — Bons gestores de juros e câmbio se beneficiam com cenário de volatilidade de juros e perda do poder de compra das moedas. Multimercados que trabalham bem também a renda variável doméstica e global devem observar uma valorização em cenário otimista de queda dos juros, caso a inflação convirja para a meta, seguindo as expectativas.
Rodrigo Correa, estrategista da Nomos, acredita que os investidores devem considerar fundos imobiliários, que tendem a se beneficiar com corte de juros, especialmente os conhecidos como “de tijolos” — aqueles que investem em imóveis físicos já construídos e prontos para utilização ou que usam os recursos para construí-los. Na renda fixa, Correa sugere um portfólio equilibrado entre os três indicadores: o prefixado, pós-fixado e o condicionado à inflação. A proporção, alerta, varia de acordo com o perfil do investidor. — Talvez seja um momento interessante para que os investidores acrescentem um pouco mais de duração nos seus portfólios, ou seja, investimentos em renda fixa com um prazo de vencimento mais longo — aconselha.
Em relação ao crédito privado, o estrategista observa que empresas tidas como mais seguras, avaliadas em ‘AAA’, não estão mais entregando retornos significativos. Os rendimentos mais altos têm sido oferecidos por aquelas com avaliadas como ‘A’ ou menores pontuações. Nesse caso, porém, é preciso ter cuidado para aplicar. Correa avalia que diversas empresas devem entrar com pedidos de recuperação judicial em 2024, assim como ocorreu em 2023. — A gente ainda está no final do ciclo de juros altos, o que traz dificuldades para as empresas com alavancagem maior (endividadas). Algumas empresas acabam não conseguindo passar por esse ciclo. É natural ver aumento de falências — explica.
Para ter retornos maiores em 2024, o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, recomenda aumentar a alocação em ativos de risco, como Bolsa e os títulos públicos NTNBs longas (ou seja, Tesouro IPCA+), sem abrir mão de outras classes de ativos que possam diversificar a carteira e trazer mais segurança ao investidor.
Imagem de Csaba Nagy por Pixabay