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UNIGEL TEM PREJUÍZO DE R$ 1 BI ATÉ SETEMBRO E AUDITOR VÊ DÚVIDAS DE CONTINUIDADE OPERACIONAL

João Paulo - 28/12/2023 15:00

Sem alarde, a Unigel publicou na última semana os resultados financeiros apurados até setembro, confirmando que enfrenta uma grave crise financeira e que rompeu compromissos relativos à alavancagem, assumidos na emissão de R$ 500 milhões em debêntures. A companhia buscou, há duas semanas, mediação judicial para renegociar cerca de R$ 3,7 bilhões em dívidas. Os números divulgados entre quinta e sexta-feira mostram que a empresa teve prejuízo líquido de R$ 1 bilhão em nove meses e o patrimônio líquido estava negativo em R$ 20,6 milhões em 30 de setembro. O auditor independente se absteve de opinar sobre o balanço.

Segundo a Deloitte, que assina o relatório de revisão das demonstrações financeiras do terceiro trimestre, a proteção judicial obtida pela petroquímica contra execução de dívidas por 60 dias indica “a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional”. O auditor também destacou que a não conclusão do plano de reestruturação financeira pode afetar a capacidade de investimento da Unigel.

“A companhia não havia atualizado, até a data de finalização dos nossos trabalhos, os estudos relacionados a recuperabilidade de ativos imobilizados e ativos fiscais diferidos, e os estudos sobre a existência de eventuais provisões decorrente de contratos e operações onerosas”, apontou a Deloitte, acrescentando que a Unigel não divulgou adequadamente as fontes de incerteza que podem levar a ajustes “materiais” no ativo e no passivo.

De janeiro a setembro, a receita líquida da companhia, que atua nos segmentos de fertilizantes, estirênicos e acrílicos, somou R$ 4,11 bilhões, com queda de 45% na comparação anual. O resultado operacional (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado ficou negativo em R$ 276 milhões, com margem negativa de 6,7%, de R$ 1,65 bilhão positivo um ano antes.

Além do ciclo de baixa da petroquímica global, o pior em décadas, a Unigel suspendeu temporariamente as operações em diferentes unidades para reduzir estoques e se adequar às condições mais fracas de demanda, com impacto em custos e volume de vendas. Especificamente no terceiro trimestre, a empresa concedeu descontos na venda de produtos numa tentativa de assegurar maior geração de caixa operacional.

Os resultados no trimestre também foram prejudicados pelo “reconhecimento de despesas com encargos e penalidades de take-or-pay, além de iniciativas de capital de giro realizadas para preservação de liquidez”. A receita líquida recuou 60% na comparação anual, para R$ 972 milhões, o Ebitda ajustado foi negativo em R$ 149 milhões e o prejuízo líquido foi 26 vezes maior que o registrado um ano antes, de R$ 524 milhões.

Em nove meses, a dívida líquida da Unigel saltou 75% em nove meses, para R$ 4,24 bilhões em setembro, e o consumo de caixa e equivalentes chegou a R$ 614 milhões. Em setembro, a alavancagem financeira estava bem acima dos 3,5 vezes (medidos pela relação entre dívida líquida e Ebitda em 12 meses) estabelecidos como teto no contrato firmado com os debenturistas — a dívida líquida estava em R$ 4,24 bilhões para um Ebitda ajustado negativo de R$ 50 milhões.

Os detentores dos R$ 500 milhões em debêntures emitidas pelo grupo chegaram a aprovar o início dos procedimentos para execução da dívida, mas foram surpreendidos pelo pedido de proteção judicial por 60 dias feito pela Unigel. A companhia também está renegociando as condições de pagamento de US$ 530 milhões em bônus emitidos no mercado externo pelo grupo e passivos com outras instituições financeiras.

Foto: Divulgação

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