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ARMANDO AVENA – AS MONTADORAS CONTRA O NORDESTE E O CARRO ELÉTRICO

Redação - 23/11/2023 06:58 - Atualizado 23/11/2023

Na votação da reforma tributária no Senado, três grandes montadoras, General Motors, Toyota e Volkswagen, fizeram um forte lobby junto aos senadores para que não fosse aprovada a emenda que prorrogava os incentivos para empresas automobilísticas localizadas no Norte, Nordeste e Centro Oeste. O lobby, que incluiu anúncio pago nos três maiores jornais do país pedindo a exclusão dos incentivos, tem como objetivo barrar a expansão da Stellantis em Pernambuco e da BYD que vai se implantar na Bahia. E as montadoras vão tentar novamente a revogação dos incentivos na próxima votação na Câmara de Deputados. O que há por trás disso? O problema é que o lobby das montadoras não aceita o fato da Stellantis, sediada na cidade de Goiana em Pernambuco, ser a líder do mercado de automóveis no Brasil e tampouco que a BYD vá se tornar a maior fábrica de carros elétricos do Brasil.

 Na verdade, as grandes montadoras brasileiras perderam o trem no que se refere ao mercado de carros elétricos no Brasil e querem manter o reinado dos  carros poluentes movidos a combustíveis fósseis.  Prova disso é que o lobby  das montadoras agiu em outra frente e conseguiu que o governo federal acabasse com a isenção da cobrança do imposto de importação sobre veículos elétricos e híbridos.

Com isso, a partir de janeiro, o imposto para compra desses carros vai aumentar até voltarem ao patamar de 35% em julho de 2026. A importação de carros elétricos ampliaria o mercado e até a BYD é favorável à isenção, mas, sob o pretexto estimular a produção nacional, o lobby das montadoras conseguiu uma reserva de mercado, para compensar sua falta de investimentos em fábricas de carros elétricos.

As grandes montadoras brasileiras nunca acreditaram que o carro elétrico fosse viável no Brasil, não só pelo preço mais alto desses veículos, mas também pela falta de postos de carregamento para os carros num país dessa dimensão. Erraram feio, não só porque o carro elétrico ficou mais barato – o Dolphin da BYD, o elétrico mais vendido no país, custa R$ 149,8 mil –, como porque qualquer conta de padeiro vai mostrar que, com o preço da gasolina nas alturas, o investimento tem retorno rápido. Além disso, as empresas asiáticas têm outra concepção, acreditam que o carro elétrico vai baratear rapidamente e que a crescente preocupação com o ambiente, bem como a matriz energética limpa do Brasil, vai estimular o crescimento das vendas.

Ademais, a infraestrutura de carregamento está se ampliando, afinal as construtoras e incorporadoras já estão construindo carregadores nas garagens dos novos prédios e as produtoras de veículos elétricos mantêm centrais de cargas e têm investido nessas estruturas. E, para completar, o etanol, abundante no Brasil, é completamente amigável à tecnologia elétrica e a BYD pretende desenvolver a tecnologia e construir um híbrido plug-in com etanol.

 Por enquanto, é a Stellantis de Pernambuco, que também pretende investir em carros híbridos, que irrita mais as grandes montadoras, mas em breve, à medida que os carros da BYD se impuseram ao mercado, ela também passará a ser alvo. Mas a Stellantis ainda fabrica carros a combustão, dizem as montadoras como justificativa para o fim dos incentivos. Sim, mas no Nordeste!  As montadoras do Sul e Sudeste receberam bilhões em incentivos nos últimos 30 anos e sediam 26 fabricantes e 64 montadoras no país, enquanto apenas uma está no Nordeste. Ou seja: os incentivos não são para o setor automobilístico, são para estimular o desenvolvimento das regiões mais pobres.

                                             A VIABILIDADE DE MILEI

Javier Milei quer acabar com o Banco Central. Se fizer isso será o caos. Quem vai regularizar e fiscalizar o sistema bancário, quem vai garantir que os investidores não serão lesados, quem vai compensar cheques e operações de redesconto? Javier Milei quer dolarizar a economia? Não será possível, pois não tem reservas em dólar, que passaria a ser o meio circulante. E, mesmo se fosse possível, seria um país de segunda classe, pois os juros, a taxa de câmbio e a política monetária seriam definidos pelos EUA. A saída para a Argentina é fazer o que foi feito por Fernando Henrique Cardoso, a troca gradual da moeda usando uma unidade de referência. Mas antes precisa reorganizar o sistema.

Publicado no jornal A Tarde em 23/11/2023

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