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JOSÉ MACIEL – FATOS E MITOS NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: OS SUBSÍDIOS AOS PRODUTORES RURAIS

Redação - 13/11/2023 08:31
O Brasil é  indiscutivelmente uma grande potência agrícola global. Alguns analistas atribuem essa pujança do nosso agro aos “volumosos” subsídios  concedidos aos agropecuaristas pelos nossos governos. Várias entidades e autores  têm abordado esse assunto, sendo a OCDE-Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico  o organismo que tem acompanhado o tema em vários países ao longo dos últimos 20 anos. Os relatórios da OCDE vêm quantificando as medidas de suporte e apoio direto aos agricultores  e apresentando os dados como proporção do valor bruto da produção (VBP)do setor agropecuário de um vasto conjunto de países , incluindo Brasil.
Pois bem, desde 2004 , os informes dessa conceituada instituição  têm constatado que o Brasil é uma das nações que menos subsidiam a agropecuária. Em 2004, essa taxa era de 3% do valor bruto da produção do setor, taxa essa superior apenas aos 2% ostentados pela Nova Zelândia, país este classificado na primeira posição do ranking dos países que menos subsidiam o agro. Uma atualização dos números em 2020-2021 aponta uma diminuição da taxa brasileira para algo na casa dos 2%.
No citado relatório de 2020-2021, os subsídios agrícolas mundiais continuaram aumentando e alcançaram a astronômica safra agregada de 720 bilhões de dólares no período entre 2018 e 2020, sendo que os países ricos , principalmente os da União Europeia e os EUA´, continuam a assegurar boa parte da renda de seus produtores, inclusive com pagamentos diretos em função de área plantada e de outros parâmetros. Embora o apoio médio mundial representasse cerca de 18% do VBP , existem casos de países, como Noruega, Suíça e Japão, onde os subsídios alcançam a proporção de quase 60% de seus respectivos VBPs, caracterizando seus produtores quase como “funcionários públicos”, dada a enorme ajuda oficial. China , Índia e Indonésia também ostentam índices elevados de subsídios . União Europeia e EUA têm contribuído com 19% e 10% da receita bruta de seus agricultores, respectivamente, causando distorções consideráveis no comércio  agrícola mundial, e configurando um cenário adverso de concorrência para países como o Brasil, que subsidiam  pouco o seu setor agropecuário.
No caso do Brasil, a taxa encontrada de 2% do VBP pode estar superestimada. A depender dos critérios utilizados, os subsídios aplicados aqui poder ser inferiores a essa taxa . Vamos mostrar como chegamos a valores menores que 2%.
Aqui nos nossos cálculos consideramos como subsídios aquelas rubricas nas quais os custos estão sendo compartilhados entre os produtores rurais e o governo, Nesse caso, o governo entra com recursos orçamentários para baratear o custo de certos instrumentos de política agrícola, previstos nos Planos Safra anuais.  Essa ajuda oficial corresponde, em boa medida, a dois tipos de aportes de recursos governamentais: os recursos para o subsídio que vai equalizar parte dos juros do crédito agrícola, o que  vai possibilitar o setor ter acesso a taxas de juros inferiores aos custos de captação dos bancos, com o governo bancando a diferença; a outra rubrica é  o seguro rural, que disponibiliza recursos para cobrir parte dos custos das apólices de seguro adquiridas pelos agricultores. O produtor compra a apólice e o governo ajuda a diminuir o custo para o empreendedor rural, entrando com uma parte chamada de subvenção ao prêmio de seguro rural.
Se pegarmos os dados do Ministério da Agricultura sobre as disponibilidades de recursos para a safra 2023-2024, temos cerca de 1, 4 bilhão previsto para o seguro rural  e 13,6 bilhões de reais para cobrir a equalização de  juros, somando uma disponibilidade de 15 bilhões de reais para a safra que está sendo plantada agora e vai ser colhida no primeiro semestre do próximo ano. A divisão desse montante pelo valor bruto da produção da safra 2022-2023 (o ideal era usar o VBP da safra 2023-2024), que é de 1,142 trilhão de reais, aproximadamente, encontraremos um subsídio de 1,3% do VBP nacional, ou seja, um valor bem abaixo do estimado para o Brasil pela OCDE. Este  valor chega a ser menor que 1% se considerarmos os subsídios alocados para a chamada  agricultura empresarial. Mesmo que se agregue outras ajudas do Ministério da Agricultura, a taxa de subsídio não parece atingir  os 2% do VBP.
Em resumo, não é verdade que a agropecuária brasileira é fortemente subsidiada pelos sucessivos governos. O Brasil figura no universo de países que menos subsidiam o agro, universo esse integrado além do Brasil, pela Austrália, Nova Zelândia, , Chile e África do Sul. Como diz o professor Xico Graziano, da FGV-SP, podemos nos orgulhar do agro nacional. Ele segura, com suas próprias pernas, a economia brasileira.
(1)Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP.  E-mail: [email protected]

 

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