São inúmeros os fatores que contribuem para o sucesso de um projeto industrial. A disponibilidade de matéria prima, a existência de mercado consumidor, o domínio da tecnologia, a viabilidade econômica e financeira, a formação da mão-de-obra requerida, a acessibilidade aos mercados, os custos de produção, enfim, são muitos fatores, que isoladamente ou combinados, definem se um projeto industrial pode sobreviver ao longo dos anos, pode dar certo. Entre os projetos de dimensão nacional que se constituíram um sucesso absoluto pode-se citar os seguintes: os polos petroquímicos, pela sua integração funcional e exemplar planejamento; o siderúrgico nacional, pelo aproveitamento ainda que parcial da exuberância dos minérios de ferro de alto teor; o de metais não ferrosos, adicionando valor aos minérios antes exportados in natura; o programa nacional do álcool, carregando consigo a força da matéria prima renovável; o de fabricação de veículos automotivos, gerando empregos e barrando as importações;o da ocupação dos cerrados, áreas antes imprestáveis e hoje avançam como uma grande produtoras de alimentos para o mundo;o de celulose e papel, pela competência adquirida na implantação de florestas plantadas, tirandoo país da posição de grande importador para fixar-se como um dos maiores exportadores do globo; e tantos outros que fizeram o país crescer e consolidar-se como potência mundial.
De todos esses projetos o que merece maior aplauso dos brasileiros é o resultante da teimosia do norueguês Erling Lorentzen que insistia em produzir celulose em larga escala usando fibras do eucalipto (Eucalyptus) no Espírito Santo. Consta que o Banco Mundial negou apoio financeiro ao projeto, quando Lorentzen recebeu adesão do então presidente do BNDE Marcos Viana, capixabaque nele acreditou. Hoje o Brasil é o maior produtor mundial de celulose de fibra curta, deixando de ser importador da commodity para ser um dos seus maiores exportadores. A aplicação de tecnologia de ponta no cultivo e as pesquisas realizadas para identificação dos clones mais resistente e adaptáveis às condições ambientais, tornam as florestas de eucalipto brasileiras as mais produtivas do mundo, o que proporciona produção de celulose com baixo custoe alto poder competitivo. Uma árvore imbatível no crescimento rápido, uma riqueza.
Outro projeto de encher os olhos é o Proálcool. A insistência de Bautista Vidal, quando era Secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Indústria e Comércio, fez mudar aconcepção dos motores dos automóveis fabricados aqui pelas multinacionais do setor. Hoje o Brasil tem o melhor projeto mundial de produção de combustível de origem não fóssil para veículos. A bem-sucedida experiência industrial foi acompanhada pelo desenvolvimento agrícola na produção de cana-de-açúcar. Gilberto Farias na sua Agrovale, num experimento que durou cerca de trinta anos, conseguiu aumentar a produtividade usando a técnica de irrigação subterrânea por gotejamento. Ninguém acreditava nisso, mas ele conseguiu, criando condições para incremento da produção de planta usando pouca água na irrigação em terrenos planos de fácil mecanização.
Muito se espera dos projetos com grande potencial na geração de empregos que estão sendo desenvolvidos no momento, como os aqui listados: o projeto Brave, do Senai-Cimatec, para a produção de etanol a partir das fibras do sisal; o projeto de diesel vegetal, a partir do óleo da macaúba, liderado pela Acelen; o projeto de geração de energia eólica e solar da Cinco Energy, de dimensão equivalente à hidrelétrica de Itaipú; o projeto de Hidrogênio Verde da Unigel, que em Camaçari instala a maior usina do mundo, com uso de energia elétrica de fonte limpa;e de outros tantos menores e igualmente germinativos que levam a riqueza para o interior, distanciando-se do litoral.
Esse registro está sendo feito para que seja reforçada a crença no Brasil, nesses tempos de incertezas trazidos pela economia mundial e quando muito se discute a preservação do ambiente e mesmo de ameaças da vida sobre a Terra. Importante também frisar que para os mais moços vale a pena dizer que existe saída para eliminação da pobreza e que é possível se alcançar o desenvolvimento preservando avida de forma autossustentável.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]