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ADARY OLIVEIRA – O ÁLCOOL DO SISAL E DA MANDIOCA

Redação - 28/08/2023 10:09

O nome científico do sisal é agave sisalana, da família Agavaceae. É uma planta originária da América Central, mas é cultivada em várias regiões semiáridas do mundo.  O Brasil é o maior produtor mundial de sisal e a Bahia é seu maior produtor com 80% da produção nacional. O nome científico da mandioca é manihot esculenta, da família das Euphorbiaceae. Esta planta é nativa da América do Sul, no entanto está presente em muitas regiões do mundo.

O estado maior produtor de mandioca do Brasil é o Pará, com cerca de 20% da produção nacional. O Paraná e a Bahia vêm em seguida, com cerca de 15% e 10%, respectivamente. A produção de álcool de sisal é um dos objetivos do Projeto Brave, parceria do Senai-Cimatec com a Shell. Quando foi implantado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), na década de 1980, a Petrobras instalou uma usina de álcool de mandioca em Curvelo, MG. Entretanto, as imperfeições deste projeto o levaram a ser descontinuado, principalmente pela falta de matéria-prima.

A produção de álcool de mandioca envolve a extração e a fermentação dos açucares presentes na raiz da planta, seguida da destilação para a produção de álcool. Uma das principais vantagens da produção de álcool de mandioca é a abundância da matéria-prima que pode ser cultivada em larga escala e possui um rendimento significativo de açúcares. Além disso, a mandioca é considerada uma cultura de ciclo curto, o que significa que pode ser colhida diversas vezes ao ano, aumentando a eficiência da produção.

Outra vantagem da produção de álcool de mandioca é a possibilidade de utilizar da planta inteira incluindo partes que são normalmente descartadas como as folhas e os resíduos da colheita. Isso reduz o desperdício e aumenta o aproveitamento da matéria-prima. Além do mais, a mandioca é adaptável a diferentes condições climáticas e tipos de solo, o que tona seu cultivo mais flexível em comparação com outras culturas.

No entanto, a produção de álcool de mandioca apresenta certas desvantagens. O processo de extração dos açúcares da mandioca apresenta complexidades que exigem equipamentos específicos, o que pode elevar os custos de produção. Além disso, a mandioca é uma cultura que requer uma significativa quantidade de água para cultivo, o que se constitui um desafio para certas regiões onde a escassez hídrica é um problema.

Em relação à produção de álcool de sisal esse processo envolve a extração e fermentação de açúcares presentes nas fibras das plantas, seguida de destilação para obtenção do álcool. Uma das principais vantagens da produção de álcool de sisal é a resistência e adaptabilidade dessa planta a condições climáticas adversas, incluindo a falta de água. Isso torna o sisal uma alternativa interessante para regiões onde o cultivo de outras culturas é inviável. Outra vantagem para o sisal é a sua alta produtividade de fibras, que podem ser utilizadas em outras aplicações além da produção de álcool. Além das fibras, compõem o sisal a mucilagem e o suco, rico em ecogenina. Isso significa que o sisal pode ser uma cultura de uso múltiplo, contribuindo para a sustentabilidade e aproveitamento máximo da planta. Igualmente, o sisal é considerado uma cultura de baixo custo de produção, o que torna o álcool de sisal economicamente viável em determinadas regiões.

No entanto, a produção de álcool de sisal também apresenta desvantagens. A obtenção de açúcares das fibras de sisal exige processos mais complexos em comparação com a extração de açúcares da mandioca, o que pode aumentar os custos da produção. Além do mais, o sisal é uma cultura que requer um período de crescimento relativamente longo antes da colheita, o que pode limitar a sua disponibilidade como matéria-prima em comparação com a mandioca.

Em resumo, tanto a produção de álcool de mandioca quanto a de sisal possuem vantagens e desvantagens. A escolha entre as duas rotas tecnológicas dependerá de vários fatores, como disponibilidade de matéria-prima, condições climáticas, custos de produção e demanda do mercado. Ambas as opções têm potencial para contribuir para a produção de biocombustíveis para a busca de energia renovável e sustentável. 67% do território da Bahia é constituído de semiárido e seu aproveitamento integral sempre representou um desafio enorme.

Com é do conhecimento geral, o semiárido é uma região que não é totalmente árida, mas que tem pouca chuva e alta temperatura. O clima semiárido influencia a vegetação, a fauna, a agricultura e a vida das pessoas que moram nessa região. O Projeto Brave representa um desafio e uma grande esperança para os nordestinos, mas a sua execução não deve levar ao esquecimento a possibilidade de se fabricar álcool usando a mandioca como matéria-prima.

 

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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