Apesar da obesidade sempre ter sido associada às doenças do coração, a gordura corporal também influencia na formação de vários tipos de câncer, como o câncer colorretal, tumor que é o segundo mais frequente em mulheres e homens no Brasil, sem considerar o câncer de pele não melanoma. Isso é mais preocupante ainda num cenário onde mais da metade da população (56,8%) está com excesso de peso – sobrepeso ou obesidade, segundo levantamento do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), realizado entre janeiro e abril de 2023 em todas as regiões do país.
Considerada uma doença do “estilo de vida”, o câncer colorretal é associado ao consumo de carnes vermelhas e processadas, obesidade e sobrepeso, tabagismo e consumo excessivo de álcool. “Hábitos pouco saudáveis são os principais fatores de risco para esses tumores, além do histórico familiar, inflamações intestinais crônicas e presença de pólipos no intestino “, explica o oncologista Eduardo Moraes, do NOB – Oncoclínicas.
O câncer colorretal, ou câncer de intestino, abrange os tumores que acometem a parte do intestino grosso, chamada cólon, e sua porção final, o reto. 90% dos casos da doença se originam a partir de pólipos (lesões benignas que se desenvolvem na parede interna do órgão, especialmente a partir dos 50 anos). Segundo Eduardo Moraes, a melhor forma de prevenir esse tipo de câncer é adotar um estilo de vida saudável. “Manter-se no peso adequado, praticar atividade física regular, evitar o excesso de bebidas alcoólicas e ter uma dieta rica em fibras, dando preferência a alimentos in natura ou integrais e minimamente processados, como verduras, legumes, frutas, cereais integrais, grãos e leguminosas”.
A American Cancer Society recomenda comer pelo menos cinco porções de frutas e verduras diariamente e ingerir a quantidade certa de alimentos para manter um peso saudável. De acordo com o INCA, o ideal é optar por mais alimentos in natura ou minimamente processados, retirar o saleiro da mesa e temperar a comida com ervas naturais, como manjericão, orégano e coentro, para diminuir o sal na alimentação. O sal é essencial na dieta, mas deve ser consumido em pequenas quantidades, em excesso pode causar câncer gástrico.
Alerta aos sintomas
Alterações no hábito intestinal (diarreia ou constipação) e no apetite, anemia, presença de sangue nas fezes, fraqueza, perda de peso sem causa aparente, desconforto ou dor abdominal são alguns dos sintomas que podem estar associados ao câncer de intestino. “Essas ocorrências devem ser investigadas para afastar a possibilidade de uma neoplasia”, orienta o oncologista do NOB Oncoclínicas. No entanto, muitas vezes a pessoa acometida pela doença pode não apresentar sintomas, o que reforça a importância dos exames para rastreamento. Se diagnosticado precocemente, a chance de cura pode ser superior a 90%.
Colonoscopia após os 50
O câncer colorretal acomete principalmente pessoas com mais 50 anos, sendo que sua incidência aumenta após os 60 anos, em pacientes com doenças inflamatórias intestinais e com muitos pólipos no intestino. “A forma mais eficaz de diagnosticar e prevenir os tumores colorretais é através da realização da colonoscopia”, orienta o oncologista. É um exame endoscópico do intestino grosso – cólon e reto – onde é introduzido um tubo com uma câmera na extremidade, permitindo detectar e remover pólipos ou tumores malignos em diversos estágios. “O exame deve ser realizado a partir dos 50 anos e repetido a cada cinco ou dez anos, de acordo com indicação médica, para pessoas assintomáticas e sem fatores de risco, ou seja, sem histórico de câncer de intestino ou pólipos na família, e doença inflamatória intestinal”, explica o médico Eduardo Moraes.
No entanto, na presença de fatores de risco para câncer de intestino, é importante que o rastreamento comece mais cedo, justamente para que o médico acompanhe o paciente e dê todas as informações necessárias. “Nesses casos, a data de início e a frequência do exame de colonoscopia deve ser discutido com o seu médico”, afirma. “O Brasil ainda carece de divulgação das campanhas específicas para câncer de intestino, como o Março Azul-Marinho. Essa campanha tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância dos hábitos alimentares e da realização do exame de colonoscopia, assim como já é feito no Outubro Rosa e Novembro Azul”, alerta o especialista.
Tratamentos
As cirurgias minimamente invasivas, seja laparoscópica ou robótica, e a radioterapia de alta precisão têm sido grande aliadas do tratamento desses tumores. Nos casos de doença avançada, o uso de quimioterapias modernas, associadas ou não as chamadas “terapias-alvo”, drogas que atingem especificamente as células tumorais e preservam as saudáveis; e mais recentemente o uso da imunoterapia, medicamentos que estimulam o seu sistema imunológico a reconhecer e destruir as células cancerígenas, têm melhorando a tolerância, atuando com menos toxicidade, menos efeitos colaterais e maior eficácia.