O ativista do movimento negro, investigador de Polícia, e coordenador-geral da Federação dos Trabalhadores Públicos do Estado da Bahia (Fetrab), Kleber Rosa, rebate o Coronel Sturaro que, na manhã desta segunda-feira (10), declarou ao Jornal da Manhã, da Rede Bahia, que “os casarões do Pelourinho precisam ser fechados, e que as famílias precisam ser relocadas”, após assalto que ocorreu com um repórter no último sábado (8), no Centro Histórico.
Para o cientista social e mestre em estudos sobre racismo, a fala de Coronel Sturaro representa o pensamento eugenista presente na política e na Segurança Pública da Bahia. De acordo com Kleber Rosa, a declaração de Sturaro revela uma “concepção antiga que orientou a segurança pública e que permanece presente ainda nos dias de hoje, a ideia de que você precisa “limpar”, afastar as famílias negras dos centros urbanos como se elas representassem “ameaças”.
” É a premissa da limpeza étnica do Séc. XIX que ainda continua vigente em nossa sociedade. É um absurdo a fala de Sturaro porque, inclusive, no depoimento ele mesmo reconhece que as pessoas que moram nos casarões não são bandidas, que as pessoas que moram ali são famílias pobres e ainda assim ele propõe fechar e afastar as pessoas do centro. Isso é uma concepção eugenista é a política de segurança pública baseada na ideia de que os negros são naturalmente e potencialmente criminosos. Isso justifica porque a população negra continua hoje sendo alvo principal das ações policiais. Então, é um absurdo a fala dele. Precisa ser combatida, precisa ser desconstruída e enfrentada. E nós precisamos definitivamente avançar com uma outra concepção de segurança pública”, reflete Kleber Rosa.
O cientista social salienta que “fechar” os casarões não vai resolver o problema da criminalidade que atinge o Pelourinho. O fundador do Movimento dos Policiais Antifascismo sugere que os casarões passem por um processo de requalificação. ” São residências que precisam de uma política séria de habitação para garantir moradia digna para as pessoas, além de incluí-las num programa de emprego e renda em torno das atividades turísticas e culturais que são tão significativas no centro histórico”, sugere.
” Fechar os casarões não vai resolver o problema da violência no Pelourinho. Concordo totalmente com Ricardo Smahel. Não precisamos fechar os casarões. Precisamos exatamente do oposto. Precisamos ” ocupar” os casarões com programa de moradia popular, projetos sociais, educacionais e culturais que, inclusive, envolvam os jovens vulneráveis da região do Pelourinho, os turistas, e a comunidade local de uma forma geral”, propõe Kleber Rosa.
Foto: Marcos Musse