O Banco Central elevou as projeções de crescimento da economia brasileira e para a inflação deste ano, mas segue preocupado com os preços de serviços e com a piora das expectativas de longo prazo, o que deve dificultar a redução dos juros, conforme mostra o Relatório Trimestral de Inflação divulgado hoje.
O BC revisou também a estimativa para o crédito deste ano. Segundo o relatório, a estimativa para o Produto Interno Bruto do Brasil para este ano passou de um crescimento de 1,0% para 1,2%, com a ajuda do setor agropecuário. Já a projeção para o IPCA, usado como referência para as metas de inflação, passou de 5,0% no relatório de dezembro para 5,8% e, para 2024, de 3,0% para 3,6%.
Para 2025, a estimativa também subiu, de 2,8% no relatório anterior para 3,2%. Assim, o BC está estimando que a inflação deste ano fechará ainda mais longe do teto da meta, de 3,25% mais 1,5 ponto percentual, ou 4,75%, e vai superar a meta de 3,0% válida para 2024 e 2025. As chances de a inflação superar o limite superior da meta neste ano subiram, de 57% para 83%, diz o relatório, o que é um sinal ruim para o desejo do governo de reduzir os juros básicos, hoje de 13,75%.
A projeção de inflação acima da meta nos próximos dois anos também é um mau sinal, reforçado pela simulação do BC de que, para cumprir a meta de 3% em 2024, o juro teria de ficar nos atuais 13,75%, o que provocaria forte queda na atividade. Os principais fatores para a revisão das projeções, segundo o BC, são a elevação das expectativas de inflação, a revisão das projeções de tarifas de energia em função da liminar do Supremo Tribunal Federal autorizando cobrar ICMS sobre tarifas de transmissão e distribuição de energia, a surpresa no custo de Emplacamento e Licenciamento, a revisão de projeções de curto prazo e a estimativa de revisão de atividade econômica mais forte, com o chamado hiato do produto menor. A alta só não foi maior porque o BC levou em conta a estimativa do mercado de juro mais alto por mais tempo, a forte queda do petróleo e a incerteza econômica maior.
O relatório nota que o ambiente externo se deteriorou com a crise dos bancos nos Estados Unidos e na Europa, que eleva a incerteza e a volatilidade dos mercados e requer acompanhamento. Mas observa também que a atividade e a inflação globais seguem resistentes e os juros devem continuar subindo. Já por aqui, o BC vê uma desaceleração da economia, como esperado pela autoridade monetária, mas a inflação ao consumidor e outras medidas de inflação específica, ou subjacentes, estão acima do necessário para cumprir as metas.
O relatório repete os argumentos da ata do Comitê de Política Monetária, o Copom, divulgada terça-feira, e mostra preocupação especialmente com a desancoragem maior das expectativas de inflação de longo prazo e com uma desaceleração acima do desejado no crédito. Nesse ponto, o relatório traz um estudo sobre crédito, reduzindo a estimativa para o crescimento deste ano, de 8,3% para 7,6%, especialmente pelo crédito livre, com maior impacto no crédito para empresas, de 8,0% para 6,0% pelo episódio mericanas. Para o Bradesco, o relatório trouxe poucas novidades em relação à ata do Copom no que diz respeito aos juros, sinalizando que há pouco espaço para corte no curto prazo. O relatório traz ainda uma revisão e uma discussão sobre o modelo de avaliação de cenários econômicos, o Samba, que se tornou alvo de críticas do governo. O BC destaca que o Samba é um dos modelos usados nas projeções para determinadas situações, e não o único, e explica seu funcionamento.
Fonte: Banco Central
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