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VIAGEM DE LULA A CHINA PODE GERAR MAL ESTAR COM OS EUA. ENTENDA

João Paulo - 23/03/2023 07:04 - Atualizado 23/03/2023

A relação do governo brasileiro com o governo Norte Americano pode mudar depois da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, na próxima semana.

Segundo reportagem do Jornal O Globo, Lula terá agendas que poderiam gerar mal-estar no governo de Joe Biden — entre elas uma visita à gigante tecnológica Huawei, considerada, desde 2021, um risco de segurança pelas autoridades americanas por suspeita de usar seus equipamentos para espionagem. A viagem ao gigante asiático, apenas um mês e meio após Lula visitar os EUA, bem no início do governo, é uma medida da importância que ele dá a ambos — os maiores parceiros comerciais do Brasil— e, no governo brasileiro, a preocupação é manter o equilíbrio na disputa entre as duas superpotências por hegemonia.

A visita à Huawei surgiu por um convite da empresa chinesa, segundo confirmaram fontes ligadas a ela — presente há mais de 20 anos no Brasil — que foi aceito pelo governo brasileiro. Nas últimas semanas, Brasília e Pequim trabalharam intensamente para elaborar uma lista que poderia chegar a 30 acordos bilaterais. Não está claro quais serão anunciados na viagem, e quais continuarão sendo negociados nas semanas seguintes.

Segundo fontes oficiais brasileiras, Brasil e China podem ativar um fundo de financiamento chinês de R$ 20 bilhões; o Brasil pode entrar na lista de países prioritários ao turismo do gigante asiático; os dois países selarão um entendimento para desenvolver a sexta geração de satélite sino-brasileiro; e, por iniciativa do governo Lula, poderia haver uma declaração conjunta sobre clima, que seria a base de um acordo bilateral de cooperação, articulação em foros internacionais e até mesmo criação de um fundo de financiamento binacional para combater mudanças climáticas.

— Visitar a Huawei pode gerar uma percepção negativa nos EUA, no governo Biden e no Congresso americano. Acho uma provocação desnecessária — afirma Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), e professor da Escola de Relações Internacionais da FGV.

Para Viola, “o Brasil precisa ser cuidadoso”. — Nesta nova Guerra Fria, em termos de valores, porque estamos falando, também, de um confronto entre democracias e autocracias, o Brasil está mais próximo dos EUA e da Europa. Mas, do ponto de vista comercial, temos um vínculo forte, e uma dependência da China. Chineses e americanos precisam reconhecer isso, e o Brasil precisa ser mais sensível às preocupações dos dois lados — aponta o professor, lembrando que EUA e países europeus foram “decisivos na defesa da democracia brasileira”.

Outros analistas discordam de Viola. Na visão de Hussein Kalout, pesquisador da Universidade Harvard, “o Brasil é independente para perseguir seus interesses com quaisquer atores que julgar apropriados para o interesse nacional”. — O Brasil não pode cair na armadilha de uma escolha binária — frisa Kalout.

Empresa à frente da tecnologia de telecomunicações 5G, a Huawei foi incluída em 2021, por decisão da Comissão Federal de Comunicação dos EUA, em uma lista de cinco firmas tecnológicas chinesas consideradas um “risco inaceitável” à segurança nacional americana. Em agosto de 2021, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, em visita a Brasília, chegou a pressionar o governo brasileiro a vetar a Huawei no leilão da tecnologia 5G no país. A visita à empresa é vista pelo embaixador Rubens Barbosa, chefe da sede diplomática em Washington de 1999 a 2004, como “o que se espera que o Brasil faça”.

Fonte: O Globo

Foto: Cristiano Mariz/O Globo

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