A meta de inflação brasileira está totalmente errada, é irreal e não há perda de credibilidade em rediscuti-la, afirmou hoje Rogério Xavier, sócio da gestora de recursos SPX.
Segundo ele, as expectativas de inflação já estão desancoradas e não faz sentido o Brasil trabalhar com uma meta de inflação de 3,0% ao ano se a expectativa é que as dos Estados Unidos e da Europa ficarão entre 3,0% e 3,5% nos próximos anos. Em evento organizado pelo BTG Pactual, na presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que acompanhava a discussão na plateia, Xavier reconheceu que a desancoragem das expectativas também está relacionada a dúvidas fiscais, “mas isso é outro assunto”.
“É assunto endereçado para o ministro Fernando Haddad”, afirmou, observando que “ninguém tem coragem de chegar para o ministro e dizer ministro, sabe qual o problema da meta de inflação? é porque as pessoas não têm confiança na execução fiscal que o senhor está propondo”, afirmou. “Mas, sejam sinceros e façam o argumento correto, cheguem para o ministro e digam: ministro esse pacote que o senhor fez aí não é o pacote que a gente acredita que vai entregar uma meta fiscal de superávit primário perto de zero ou de menos 1% (do PIB), com trajetória em algum momento chegando a zero, e que isso vai desequilibrar a sustentabilidade da dívida”, afirmou.
“Mas falem que esse é o motivo, não que o problema é a meta, tem de separar as discussões”, disse. Xavier criticou o Banco Central ao afirmar que ele fez uma “barbeiragem sem tamanho” no início da pandemia ao reduzir os juros básicos para 2,0%, o que provocou pressão sobre o câmbio e fez o dólar chegar a R$ 6,00. Disse ainda que, desde o início do regime de metas, o BC só conseguiu chegar a 3% de inflação ao ano em 2016, e que a inflação média da gestão de Roberto Campos Neto é de 6,0% ao ano.
“Não digo que a meta deveria caminhar para 6% ao ano, mas o custo para trazer ela para baixo é muito grande para uma meta irreal”, disse. “Claro que se a mudança vai fazer o juro cair é outra discussão, mas não há perda de credibilidade nenhuma em mudar a meta porque o Banco Central é o mesmo, e a meta mudou porque mudou o cenário e vimos que ela era muito ambiciosa”, completou.
Foto: divulgação
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