O caso da Americanas, que revelou inconsistências de R$ 20 bilhões em seu balanço e entrou em recuperação judicial, foi um caso isolado de fraude e não terá efeito de contaminação, embora o mercado tenha parado para olhar e rever suas práticas, afirmou Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco, sem citar, porém, o nome da empresa.
O banco provisionou 100% do valor que a empresa devia, cerca de R$ 1,3 bilhão, o que aumentou o custo de crédito da instituição e reduziu o lucro do quarto trimestre em R$ 719 milhões. A decisão radical de provisionar todo o valor se deveu “à materialidade do evento e às incertezas com relação aos desdobramentos”. “Não encontramos outro caso semelhante, e não houve impacto no guidance (projeções) de 2023”, disse, em entrevista para comentar o balanço do banco do ano passado.
“É um caso isolado, uma fraude e temos de acompanhar de muito perto”, acrescentou, afirmando ainda que o banco revisou toda a carteira de crédito e não encontrou indícios de contaminação e que o caso não provocou mudanças nas conceções para outras empresas. Mesmo assim, as projeções de crescimento da carteira de crédito do banco este ano estão mais modestas, reflexo dos juros ainda altos, do crescimento menor da economia e das incertezas com as mudanças promovidas pelo novo governo.
“O banco vem para 2023, com um apetite recalibrado, reduzindo na margem a carteira, como já fizemos com alguns segmentos no ano passado”, explicou. Entre os segmentos que devem continuar com maior rigor na concessão estão os empréstimos e cartões de crédito do chamado “mar aberto”, de não clientes do banco, e o segmento de veículos. Já os segmentos com garantias devem ganhar espaço. Maluhy espera que a inadimplência das pessoas físicas pare de crescer no primeiro trimestre deste ano e, para grandes empresas, a normalização ocorra ao longo do ano.