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GASTOS, DISCUSSÃO DE METAS E CREDIBILIDADE DO BC DIFICULTAM CONTROLE DA INFLAÇÃO, ALERTA ATA

Redação - 07/02/2023 10:14 - Atualizado 07/02/2023

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária reforçou o tom duro para os juros e destacou o aumento da preocupação do Banco Central com a piora das expectativas de inflação de prazos mais longos e atribuiu essa deterioração aos gastos do governo,

à discussão sobre o regime de metas e ao receio de o BC não agir para conter a alta de preços. Ao mesmo tempo, a ata mostrou que o Copom vê como positivas medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda para melhorar a arrecadação, como a volta da tributação dos combustíveis e o adiamento da correção da tabela do imposto de renda, e a atividade econômica mais fraca, que podem ajudar a controlar a inflação.

Segundo a ata, a deterioração das expectativas “pode ter ocorrido por diversas razões, destacando-se, dentre esses fatores, uma possível percepção de leniência do BC com as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional, uma política fiscal expansionista, que pressione a demanda agregada ao longo do horizonte de projeção ou a possibilidade de alteração das metas de inflação ora definidas”.

As declarações da ata refletem as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de integrantes do governo ao regime de metas de inflação, consideradas por eles ambiciosamente baixas para os padrões brasileiros, e que levariam o BC a exagerar na taxa de juros. Em resposta a essa avaliação, o BC reafirmou “seu compromisso em conduzir a política monetária para atingir as metas estabelecidas” e, depois, “se manter ainda mais atento” para reancorar as expectativas e assim reduzir o custo futuro da desinflação, indicando juros altos por um período ainda longo.

Já sobre o aumento do gasto público, o BC admitiu que eles dependem da avaliação do ciclo econômico, mas lembrou que a política monetária deve ser “a variável de ajuste “ para “mitigar os efeitos inflacionários da política fiscal”. Ou seja, será preciso manter os juros altos para evitar que os incentivos fiscais aumentem a inflação. Sobre as metas, o BC lembrou que “mais importante do que a análise das motivações para a elevação das expectativas, o Comitê enfatiza que irá atuar para garantir que a inflação convirja para as metas”, o que pode ser lido como a possibilidade de alta dos juros.

Na ata, o Copom considera que a inflação de serviços tem apresentado moderação, mas segue em nível incompatível com a meta. E destacou que “observa com preocupação o movimento recente dos horizontes mais longos” de alta das expectativas de inflação, lembrando que isso tem impacto nas projeções e eleva o custo de reduzir os preços ao exigir uma desaceleração maior da atividade para controlar os preços. “Independentemente do motivo, a mensagem final (hawkish, viés de alta das taxas) é clara: o Copom ‘irá atuar para garantir que a inflação convirja para as metas’”, diz Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos. Segundo ele, outro ponto “hawkish” é a discussão sobre a taxa de juros neutra. O Copom continua assumindo 4% em seu cenário básico, mas “avaliou cenários alternativos e identificou que os impactos de uma elevação da taxa neutra sobre suas projeções crescem no tempo”, diz o economista. Megale espera que a Selic fique estável até o fim de 2023.

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