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COM HOMENAGENS A IEMANJÁ, BAIANOS LOTAM RIO VERMELHO

Redação - 02/02/2023 13:03 - Atualizado 02/02/2023

Foram dois anos de espera e sem os festejos, por conta das restrições da Covid-19. Agora, baianos e turistas voltaram a lotar a orla do Rio Vermelho, em Salvador, desde a véspera do Dia de Iemanjá.

As festas em homenagem à Rainha do Mar acontecem nesta quinta-feira (2), mas desde a noite desta quarta (1°), os devotos decidiram antecipar as homenagens.

Com flores e perfumes, o público formou uma imensa fila na região da Colônia de Pescadores onde são deixados os presentes para a orixá. Às 5 horas da manhã deste 2 de fevereiro, o presente de Iemanjá chegou a orla do Rio Vermelho.

Já nas primeiras horas do dia, devotos formavam fila para levar suas oferendas à orixá, nos balaios do Barracão ou direto no mar. Neste ano, uma grande coroa ecológica é o destaque principal. Até o final da tarde, os devotos poderão depositar suas oferendas na casa de Iemanjá e o presente sairá às 16 horas para o mar.

Centenário:

A própria colônia idealizou o projeto, em parceria com o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), também localizado em Salvador, que é dedicado à reunião e à valorização dos artefatos e dos registros da cultura afrodiaspórica no Brasil. A nova escultura tem 1,40 metros de comprimento e  personifica traços humanoides da beleza feminina africana, tendo sido confeccionada em estrutura metálica combinada com resina de vidro e de mármore. Assinada por Rodrigo Siqueira, a obra também tem em sua composição conchas e búzios naturais importados da Indonésia.

Presidente do Mucab, Cíntia Maria explica que é importante quebrar com algumas construções do chamado sincretismo religioso – ferramenta muito utilizada pela população de terreiros de Candomblé, associando Orixás a santos católicos, para se camuflarem do preconceito e repressão à sua fé. Iemanjá, por exemplo,  foi sincretizada com várias santas, como Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora dos Navegantes, ambas celebradas em 2 de fevereiro, e Virgem Maria, a mãe de Jesus. No Candomblé, ela é a mãe de grande parte dos Orixás.

“Por muito tempo, o sincretismo religioso foi utilizado como forma de resistência das figuras negras. Mas após a criminalização faz sentido esconder a identidade de uma divindade negra? A gente entende o porquê de ter existido, mas a quem serve a massificação da imagem de uma Iemanjá branca e negação de uma Iemanjá negra?”, questiona. Ela afirma que, durante o período em que conviveu na Colônia, ouviu alguns questionamentos estranhando o porquê daquela nova imagem de Iemanjá estar ali.

Antropólogo baiano que colaborou com a pesquisa da escultura preta e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Vilson Caetano explica que a massificação da imagem de Iemanjá branca, representada em estátuas de gesso, porém, ocorre com o surgimento da Umbanda, no início do século passado. A umbanda aprofundou o sincretismo no Brasil, unindo elementos do espiritismo, do cristianismo, do candomblé e também de culturas indígenas, sob o contexto de ‘desafricanização’ da cultura afrobrasileira.

Trazer negritude à imagem dessa deusa é dar direito a uma das orixás mais adoradas em Salvador de se mostrar como alguém de características semelhantes àqueles que confiam até próprias vidas a ela. Mais do que rainha do mar, Iemanjá forma, ao lado de Oxalá, um par mítico de criação: enquanto ele modela os corpos, ela cuida das cabeças – onde fica o nosso destino, caminhos e possibilidades. A escultura mostra que a Grande Mãe é preta. Isso tem força.

Foto: divulgação

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