Há quem diga que grandes equipes e grandes conquistas no futebol são fruto de trabalhos longos, contínuos e bem planejados. É uma verdade para a maioria dos times marcantes na história, mas pode não ser para a seleção do Marrocos, que tem a chance de se tornar uma dessas memoráveis.
Enfrenta a França hoje, às 16h, em Al Bayt, pela semifinal da Copa do Mundo, e, quem diria, pode chegar à inédita final.
Apesar de ser a grande zebra do Mundial 2022, a essa altura já não é mais possível atribuir à campanha do país africano apenas sorte de principiante. É preciso exaltar a competência da campanha e do recente trabalho iniciado há três meses pelo técnico Walid Regragui. Cinco jogos, nenhuma derrota, cinco gols marcados e apenas um sofrido (por sinal, foi um gol contra), o que coloca os marroquinos na condição de melhor defesa.
A solidez defensiva talvez seja a chave para explicar como a seleção marroquina chegou tão longe no Mundial e é também o que mantém viva a possibilidade de eliminar os atuais campeões nesta semifinal. Fazendo um recorte desde 1982, quando foi estabelecido o atual formato de disputa, outras seis seleções além de Marrocos passaram das quartas de final tendo levado até um gol.
Polônia (1982), França (1998), Alemanha (2002), Portugal e Itália (ambos em 2006) levaram só um gol em cinco partidas do Mundial. Os italianos já tinham alcançado uma marca melhor em 1990, quando chegaram com a defesa zerada nas semifinais. O sistema defensivo marroquino merece atenção não só pelo baixo número de gols sofridos, mas também pela capacidade de suportar a pressão dos adversários e tirar disso força para marcar seus gols e vencer os jogos.
Foi assim contra a Bélgica na fase de grupos e contra Portugal nas quartas, quando Marrocos usou muito bem os contra-ataques para abrir o marcador (contra a Espanha, nas oitavas, o desenho do jogo foi o mesmo, mas o placar terminou 0x0, e os marroquinos avançaram nos pênaltis). Para isso, a seleção conta com a habilidade de jogadores que fazem bem a transição da defesa ao ataque, como os laterais Hakimi e Mazraoui – este é dúvida para a semifinal por causa de lesão -, o volante Amrabat e os atacantes Ziyech, Em-Nesyri e Anass Zaroury.
No gol, Marrocos ainda tem o melhor goleiro da Copa até então. Yassine Bounou, que atua pelo Sevilla, da Espanha, foi quem teve a missão de parar os ataques da Croácia, Bélgica, Espanha e Portugal, tendo ainda defendido duas penalidades contra os espanhóis. Dessa vez, contra a França, atual campeã, tem a dura missão de bloquear Mbappé, que divide a artilharia do Mundial com Messi, cada um com cinco gols.