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2023 PODE SER O NOVO ANO DA RENDA FIXA. VEJA ONDE INVESTIR

Redação - 12/12/2022 08:21 - Atualizado 12/12/2022

Em março de 2021, o Banco Central iniciou o processo de aumento da Selic. Desde então, a taxa básica de juros saiu de 2% ao ano (patamar mais baixo da história) para 13,75%, valor mantido na reunião da última quarta-feira (9).

E em um cenário de inflação global alta e incertezas políticas como é o atual, a perspectiva é de que os juros não caiam tão cedo. Isso significa, portanto, que há grandes chances de vermos mais um “ano da renda fixa”, em que a melhor estratégia para os investidores é aplicar em papéis mais conservadores.

Logo no começo de 2022, a Selic saiu de 9,25% para 10,75% ao ano. Ao longo do ano, a taxa básica de juros teve novas altas e chegou a 13,75%. Se por um lado esse movimento faz com que os empréstimos encareçam, por outro, os investimentos de renda fixa tornam-se mais atrativos. Isso porque muitos deles têm seus rendimentos atrelados à Selic, portanto, quanto mais alta ela fica, mais eles rendem.

Segundo analistas, as perspectivas para a Selic são de que ela não abaixe tão cedo. Pelo contrário. Há quem acredite, inclusive, que ela possa subir no começo do ano que vem. Parte dessa percepção vem das incertezas a respeito do próximo governo e de sua condução da política fiscal. Mesmo com o futuro presidente Lula tendo anunciado na sexta-feira nomes para ministérios importantes, como o da Economia, ainda há muita coisa para se definir, inclusive, como será a gestão desses ministros já definidos no fim da semana passada. Além disso, ainda falta passar na Câmara a PEC da Transição, que permite gastos na casa dos R$ 145 bilhões além do teto de gastos.

“Não dá para cravar o que vai acontecer com a Selic porque ainda não sabemos o caminho que 2023 vai seguir, especialmente diante de novo governo. Mas a perspectiva que temos é que um corte de juros deve vir só a partir do segundo semestre de 2023, mas ainda fechamos o ano com a Selic em dois dígitos”, afirma Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos.

As projeções do Boletim Focus, relatório divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central com as estimativas dos analistas para os principais indicadores econômicos do país, mostram um caminho semelhante. Na última segunda-feira (5), o documento mostrou que a expectativa para a Selic no fim de 2023 é de 11,75% ao ano. O mesmo relatório mostrou uma expectativa de inflação em 5,08% para o próximo ano.

Portanto, caso esse cenário se concretize, o investidor que aplicar em algum ativo cujo rendimento acompanhe a taxa Selic, terá rentabilidade real positiva. Na prática, isso significa que o dinheiro aplicado vai render acima da inflação, garantindo o poder de compra daquele investidor e aumentando ainda mais o seu montante.

Esse cenário de ganhos reais com a renda fixa já está acontecendo em 2022, apesar da inflação alta. Neste ano, a inflação medida pelo IPCA acumula 5,26% até o dia 6 de dezembro. A Selic, por outro lado, acumula 11,37% no mesmo período. A poupança, por sua vez, acumula 9,48% de acordo com a regra antiga (para valores depositados até maio de 2012, na chamada “velha poupança”) e 7,90% na “nova poupança”. Já o IMA-B, índice formado por todos os títulos públicos indexados ao IPCA (com e sem juros semestrais), teve alta de 5,55% no mesmo período.

Desempenho da renda fixa

Renda fixa          Variação no ano até 6 de dezembro (%)              Variação em 12 meses até novembro (%)

Selic       11,37     12

CDI         11,37     12

Poupança*         7,9          7,73

Poupança**      7,9          7,67

IRF-M   7,25       9,26

IMA-B   5,55       6,82

IMA-B 5               8,85       9,62

IMA-B 5 +           2,57       4,19

IMA-S   11,73     12,38

Fonte: Fontes: Anbima, BC, B3, FGV, IBGE e Valor PRO . Elaboração: Valor Data

Desempenho da renda variável

Renda Variável Variação no ano até 6 de dezembro (%)              Variação em 12 meses até novembro (%)

Ibovespa             5,12       10,37

Índice Small Cap              -15,24   -9,1

IBrX 50  6,42       12,57

ISE          -13,02   -8,47

ICON     -24,28   -21,2

IMOB    -8,3        0,91

IDIV       12,62     16,33

IFIX        2,74       11,2

Dólar Comercial (mercado)         -5,49      -7,73

Euro Comercial (mercado)          -12,67   -15,16

Ouro B3               -11,36   -9,69

Fonte: Fontes: Anbima, BC, B3, FGV, IBGE e Valor PRO . Elaboração: Valor Data

Inflação em 2022

Inflação               Variação no ano até 6 de dezembro (%)              Variação em 12 meses até novembro (%)

IPCA (5)               5,26       6,03

IGP-M  4,98       5,9

Fonte: Fontes: Anbima, BC, B3, FGV, IBGE e Valor PRO . Elaboração: Valor Data

No que investir?

Embora analistas façam questão de destacar que o cenário para o próximo ano é incerto e depende especialmente de ações no âmbito político, todos concordam que pelo menos no primeiro semestre do ano os juros devem continuar bem altos. Com isso, 2023 segue o caminho de 2022, apelidado de “ano da renda fixa”. As escolhas dos papéis, no entanto, exigem um pouco de atenção por parte dos investidores.

Vinícius Romano, especialista da Renda Fixa da Suno Research, afirma que é preciso dividir os ativos entre os prefixados, pós-fixados e os atrelados à inflação antes de escolher um.

Para ele, os ativos pós-fixados (que são títulos com a remuneração atrelada à taxa básica de juros ou ao CDI, taxa que segue de perto a Selic), foram “os mais beneficiados por conta de todo o aumento dos juros” que, segundo ele, aconteceu “de forma forte e em pouco tempo”.

Romano afirma que, com as perspectivas de que a Selic continue alta por um bom tempo, a chance de esses ativos continuarem dando rendimentos reais aos investidores é grande. Até porque, caso a inflação suba mais, uma das medidas que o Banco Central pode tomar para conter a alta dos preços é aumentar os juros. Assim, o rendimento desses ativos também sobe.

Para os ativos prefixados, o especialista sugere um pouco mais de cuidado. Nesses títulos, a taxa de juros oferecida ao investidor já é acordada na emissão do ativo. Assim, o rendimento dele ao final do prazo da aplicação já é conhecido e é garantido, desde que o investidor carregue o título até o vencimento.

Romano explica que nesse caso é preciso estar atento, especialmente com os papéis que têm prazos maiores, justamente por haver incertezas sobre o que acontecerá com a Selic e com a inflação no futuro. Caso a inflação suba muito, por exemplo, pode ser que o rendimento acordado agora seja corroído pela alta de preços ao final daquele prazo.

Para o especialista, o mesmo acontece com os ativos atrelados à inflação. Ele não descarta, no entanto, uma aposta neles. Contudo, a melhor sugestão é que seja por um prazo mais curto. “Desde que o investidor mantenha o título até o vencimento, tudo bem. Mas é melhor que seja algo para quatro ou cinco anos no máximo. Para 2050, por exemplo, acho ilusório, porque é um prazo muito longo, não se sabe nem se você vai precisar do dinheiro”, afirma.

Igor Cavaca, analista da Warren, tem uma visão um pouco mais otimista para os ativos prefixados, especialmente os títulos públicos negociados no Tesouro Direto. Ele afirma que se a inflação mostrar sinais de arrefecimento, esses títulos ficam mais atrativos. Isso, depende, contudo, do contexto econômico daqui em diante.

“Vamos ver como fica o cenário depois das definições do início do ano. Caso o governo dê sinais de que não haverá muitos gastos fiscais, os indicadores podem começar a melhorar e aí os prefixados ficam interessantes. Mas, se for o contrário, e houver sinalização de mais gastos, mais incertezas, aí o foco pode ser nos títulos atrelados ao IPCA, porque a inflação tende a subir”, afirma.

Segundo os analistas, além dos títulos públicos, há outras oportunidades na renda fixa que merecem atenção. Os ativos de crédito privado são uma delas. Neles, o investidor “empresta seu dinheiro” a empresas e instituições financeiras, que devolvem ao final do prazo de vencimento, com juros.

“Para o investidor que pode tomar mais risco, começamos olhar mercado de crédito privado. Há debêntures de grandes empresas que vão remunerar um pouco melhor que os títulos do Tesouro, por exemplo”, afirma Cavaca, da Warren.

Romano, da Suno, destaca alguns títulos bancários com rentabilidades atrativas. “Temos prefixados de emissores bons oferecendo de 10% a 15% ao ano. Os títulos imobiliários também têm sido destaque nas emissões da Anbima, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). Quando vamos pra debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebimento do Agronegócio (CRAs), eu prefiro ‘veículos’ para acessá-los. Como os fundos de papéis, o Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro). Tem também o FI-Infra, que são os Fundos Incentivados de Investimento em Infraestrutura, que compram essas debêntures e o investidor tem isenção de imposto de renda”, afirma o especialista.

Por meio dos fundos citados por Romano, o investidor delega ao gestor daquele produto a função de escolher quais papéis vão entrar dentro daquela cesta. Os especialistas destacam, no entanto, que quem resolver aplicar em títulos de crédito privado deve escolher bem o produto e se atentar à empresa que está emitindo àquela dívida, para checar qual é o seu grau de saúde financeira e, portanto, os riscos implicados naquela aplicação.

Seja como for, a dica de todos os especialistas é que haja diversificação na carteira. “É muito difícil acertar na mosca o que vai acontecer, por isso é importante ter uma carteira diversificada, tanto em renda fixa quanto também na renda variável”, conclui Cavaca, da Warren.

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