Os membros do Comitê de Petróleo e Gás da Bahia (CPGB), organização instituídapelo já lendário Instituto Politécnico da Bahia (IPB), em sua reunião do mês de novembro deste ano, foram brindados com a palestra do competente engenheiro Ary Barbosa Silveira intitulada “O declínio de Camaçari”.
Ary fez parte do grupo de técnicos da Petrobras que recepcionou os especialistas da Lummusem setembro de 1972, contratada pela Petroquisa para conceber o projeto básicodo Polo Petroquímico de Camaçari, juntando-se aos engenheiros da Setal no Conjunto Nacional da Av. Paulista, em São Paulo, encarregada da elaboração do projeto de detalhamento. Em janeiro de 1974 ele e sua equipe desembarcaram em Camaçari para iniciar os serviços de terraplenagem e, quatro anos e meio depois, em 29 de junho de 1978, era inaugurando o maior complexo industrial integrado do Hemisfério, com 26 unidades industriais, investimento de US$ 6 bilhões.Na época, apesar de ainda não se usarcomputador nem calculadora eletrônica em projetos industriais, cumpriu com precisão o cronograma estabelecido. Vejamos o que disse Ary:
“Embora continue sendo o maior complexo químico do Hemisfério Sul, Camaçari vem perdendo sua competitividade, seja no mercado nacional ou internacional, e cerca de vinte unidades deixaram de operar nos últimos anos.Esta perda de competitividade decorre, no mercado internacional, de fatores como: a) Escala: Unidades de capacidade de 100.000 t/a de Camaçarí competem com unidades de 500.000 t/a da Ásia; b) Tecnologia: Com projeto iniciado em 1972, nosso complexo concorre com complexos muito mais novos; c) Logística: Distante dos mercados nacionais, e com poucas plantas de transformação no Estado da Bahia, Camaçarí tem desvantagens imensas em relação a Capuava e Triunfo; d) Comercialização: Face ao problema de localização, Camaçarí não pode oferecer a seus clientes do Sul/Sudestepronta entrega de seus produtos.
Em decorrência dos fatores acima citados, verifica-se o declínio de Camaçarí, com cerca de 20 unidades paralisadas nos últimos anos, e muito poucas novas unidades instaladas. As únicas exceções, ocorridas ou em ocorrência, são as unidades: da BASF, de SAP e Acrilato de Butila, que está em processo de ampliação por exaustão de sua capacidade;a Unigel, com unidade de Ácido Sulfúrico em implantação, e reativação da Fafen; e a Unipar que anunciou a implantação de uma unidade de Cloro/Soda.
Embora haja a aparência de que este declínio seja uma fatalidade de sua idade, isto não é verdade. Complexos muito mais antigos, como o de Ludwishaffen, da BASF, que é cerca de três vezes maior que Camaçarí, opera a quase um século, e continua competitivo, sendo o maior complexo químico do mundo. Esta competitividade permanente decorre de sua modernização contínua, com desmontagem de unidades obsoletas e e montagem de novas unidades, competitivas em termos tecnológicos e de escala. Visitamos diversas vezes este complexo, situado próximo a Mannheim, em Baden Wurtenberg, na Alemanha, mas na margem oposta do Reno, no Palatinato (Pfalz). Talvez seja interessante convidarmos a BASF, que é importante parceiro da Braskem em Camaçarí, a apresentar este processo de contínua modernização.
Temos algumas sugestões para reversão deste declínio de Camaçari, como: a) aproximação dos clientes do Sul/Sudeste, p. ex. com a mudança de localização dos estoques de produtos, de Camaçarí para armazéns localizados em Santos ou mesmo na grande São Paulo, como nos municípios do ABC; b) maior atratividade para instalação de novas unidades, seja de natureza fiscal ou outras, como, infraestrutura melhor, serviços de projeto detalhado, ou treinamento de pessoal”.
Ary sugeriu que outras recomendações para reversão do declínio pudessem ser apresentadas, seja no CPGB, ou em outros forums, como FIEB e SEBRAE. Ary deixou de citar a fábrica de hidrogênio verde da Unigel, considerada a maiordo mundo, e de mencionar que a infraestrutura industrial do Polo continua atraindo novos negócios.Existem hoje em funcionamento em Camaçari 93 unidades, 80 delas filiadas ao Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), além das que estão instaladas no Polo de Plásticos, iniciativa da Prefeitura de Camaçari.
De qualquer maneira é sempre bom ouvir análises de pessoas da experiência de Ary Silveira, que com seus 88 anos de vida, se preocupa com o desenvolvimento do nosso Estado. Ele tem muito o que nos ensinar.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]