Criados em julho de 1992, os Salões Regionais de Artes Plásticas da Bahia – projeto da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb)/Secretaria Estadual de Cultura – são considerados uns dos mais importantes e antigos do Estado, principalmente quando se remete ao âmbito das artes plásticas e visuais.
Em 2012, ao completar 20 anos, o projeto mudou de nome e passou a se chamar Salões de Artes Visuais da Bahia. Agora, em 2022, comemorando 30 anos de existência, os salões chegam à 64ª edição com uma exposição coletiva dos 42 artistas e grupos baianos selecionados no último edital.
Portanto com o objetivo de apresentar um esboço da atual produção baiana em artes visuais através da divulgação do trabalho de artistas, tanto aqueles em início de carreira quanto os que já têm mais projeção no mercado, será inaugurada uma mostra neste sábado, às 14h, no Museu de Arte da Bahia – MAB (Corredor da Vitória). Além também, de estimular a reflexão sobre temas relevantes para o estímulo ao pensamento crítico contemporâneo. Ficará aberta para visitação, sempre gratuitamente, até 27 de novembro deste ano.
De acordo com Renata Dias, diretora geral da Funceb, difundir essa modalidade de exibição em salões é fazer uma menção ao desenvolvimento das academias de belas artes no Brasil. “É importante para as artes visuais, pois sempre culmina em uma exposição aberta ao público, e não para especialistas. Conservar esse formato é rememorar os primórdios desse pensamento das artes visuais, apontando para um lugar crítico de quem é que acessa e frequenta esse espaço museal”, explica.
Meritocracia artística
Os participantes contemplam todos os seis macroterritórios da Bahia e, no final, irão compor o Catálogo Coletivo dos Salões – gratuito, disponível a partir da segunda quinzena de novembro no MAB. Foram eleitos seis artistas/grupos de cada um dos macroterritórios e outros seis de Salvador.
Com o intuito de reforçar a importância das políticas de inclusão no setor da cultura, o edital destinou 30% das vagas a pessoas negras, 2% a indígenas, e 5% a pessoas com deficiência. Além disso, houve indutor de gênero – pontuação adicional para aquelas que se autodeclararam mulher cisgênero, pessoas transgêneros e travestis.
Renata acha importante frisar que os salões buscam contemplar toda a diversidade que possa haver na Bahia. “Estamos em um tempo histórico em que precisamos falar dessas distintas narrativas, pois elas vão dizer quem foi esse tempo, algo que se registrará ao longo da nossa história futura, então é importante sermos justos com essas narrativas”. E completa, reiterando que “é fundamental dar luz a esses sujeitos que falam sobre nós, mas cuja participação não é visível quando vamos aos dados oficiais das políticas”.
Quanto à escolha dos artistas, o fotógrafo e coordenador de Artes Visuais da Funceb, Marcelo Reis, responsável pela curadoria do evento, informa que o critério para a seleção estava disponível no próprio edital.
“Entrou a questão do mérito, adequação da obra, qualidade técnica e o currículo do artista, mesmo este não sendo um critério obrigatório. Óbvio que o mérito da obra, que envolve a qualidade artística, conceitual, a técnica, a manipulação pelos elementos presentes, é que definiu a seleção”, garante Reis.
Povos originários
Para o artista plástico e historiador conquistense Vando Oliveira, que participa da mostra com a instalação O Cristo Imboré, essa é uma boa oportunidade para os artistas do interior exporem seu trabalho e valorizarem, via arte, o ativismo cultural de cada região. “Uma vez que o artista entra em um salão e é visível a uma curadoria mais ampla, ele sai de sua cidade de origem, de pequeno ou grande porte, e leva seu trabalho para Salvador, um lugar de grande influência, e assim valoriza cada segmento, os artistas e suas pesquisas”, acredita Vando.
O historiador diz que sua escultura representa a contra-memória da história contada no planalto de Vitória da Conquista sobre a formação da cidade. Ele garante que a história dos remanescentes dos indígenas e quilombos daquela região não foi devidamente pesquisada.
“O Cristo vai se apresentar mutilado, porém vivo porque essa é a história da origem dos aborígenes de Conquista. Eu, como oriundo dessa comunidade, descendente dos mongoiós paneleiros, defendo essa memória e a registro através da obra de arte”, pontua Oliveira. “Os crânios (parte da instalação) também remetem à ligação desse mesmo povo que luta para defender suas terras”, complementa.
Além de Vando, também participam da exposição, Félix Fabrício, de Santa Cruz Cabrália, com a tapeçaria Pindorama, Florisvaldo Cardim, de Valença, com a escultura Asa I E Ii, Milena Silva, de Aramari, com a instalação Aramari-Sertão-Mundo, Morais Nascimento, de Palmeiras, com a pintura Enigma de uma Realidade Perdida, Arthur de Andrade, de Lençóis, com a gravura Pretos, Gabriela Santos, de Tanque Novo, com a pintura Descanso, Vanessa Girardi, de Salvador, com a pintura Sábado, e outros mais.
Os Salões de Artes Visuais da Bahia resultam de uma parceria entre a Funceb e o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), por meio da Diretoria de Museus (Dimus) e do Museu de Arte da Bahia. Mais informações no site da Funceb.
Abertura 64ª edição dos Salões de Artes Visuais da Bahia / 8 de outubro / 14h / Museu de Arte da Bahia (MAB) – Av. Sete de Setembro, 2340 – Corredor da Vitória / Gratuita
Foto: Reprodução