Os resultados da eleição para governador da Bahia deixaram claros os erros e os acertos das candidaturas de Jerônimo Rodrigues, do PT, e de ACM Neto, do União Brasil.
A campanha de Jerônimo Rodrigues acertou ao vincular inteiramente seu candidato à força de Lula na Bahia e o trabalho da equipe de marketing nesse sentido foi de excelente qualidade, não só no que se refere ao reforço exaustivo do vínculo Jerônimo/Lula como também na desconstrução da estratégia de ACM Neto de não ter candidato à presidência da República.
Já a campanha de ACM Neto acertou ao não vincular sua candidatura à Bolsonaro e a estimular o voto Lula/Neto, mas errou ao subestimar o adversário, dando a impressão, com apoio das pesquisas que erraram muito, de que já estava eleito.
Aliás, ACM Neto moveu-se no tabuleiro eleitoral de forma muito intuitiva, parecendo que não tinha assessoria política, e de tal maneira que cometeu alguns erros crassos, como cair na provocação do candidato bolsonarista, tornado pessoal a briga com João Roma; e ao escolher uma vice sem nenhuma expressão política e sem um voto sequer, tirando todo o entusiasmo de uma liderança como Zé Ronaldo. Errou também ao demonstrar um certo etarismo, apostando só nos jovens, quando a maior liderança que emerge desta eleição é Otto Alencar, que com 75 anos teve mais votos do que Jerônimo e Neto.
Além disso, a equipe de marketing do candidato do União Brasil foi fraquíssima e não enfrentou a forte campanha de desconstrução de sua imagem pelo marketing de Jerônimo Rodrigues, inclusive no malfadado episódio da sua declaração como pardo.
Mas isso é passado, o jogo agora é ver como cada candidato se posicionará no 2º turno que é uma nova eleição. Jerônimo tem grande chance de fortalecer sua posição no cenário eleitoral e agora Lula dará todo apoio ao candidato, buscando ampliar seus votos na Bahia. A campanha do candidato do PT deve investir mais ainda na polarização, fortalecendo a bem posicionada tese de que um candidato não pode optar pelo “tanto faz”.
Enquanto isso ACM Neto tem uma dúvida shakespeariana: apoiar ou não apoiar Bolsonaro? Apoiar o presidente pode ser
armadilha e afugentar o eleitor lulista que votou nele. Além disso, os votos de João Roma devem vir para ACM Neto de qualquer modo, embora essa parcela do eleitorado espere uma tomada de posição mais afirmativa do candidato do União Brasil. Esta é a sinuca de bico: haverá quem diga que ACM Neto só ganhou nas grandes cidades e que nelas o apoio a Bolsonaro aumentaria as chances do candidato. Mas há quem afirme que se se decidir a apoiar Bolsonaro de frente estará selando sua derrota.
Se optar por manter sua posição atual, sem apoiar qualquer candidato à presidência, Neto terá de jogar todo o peso da campanha na ideia de que está mais preparado para governar e aí os debates serão fundamentais. Por outro lado, Jerônimo está em uma posição confortável, pois tem Lula ao seu lado e pode se preparar melhor para os debates.
De todo modo, a disputa eleitoral na Bahia está aí e só há uma certeza: não haverá tédio. (EP – 03/10/2022)
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