O Comitê de Política Monetária fez o que tinha de fazer: manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano. Com isso, transmite a certeza de que a autoridade monetária não vai transigir com relação à inflação. Há quem diga que já poderia haver uma queda nos juros, afinal o IPCA de julho e agosto registrou deflação de 0,68% e 0,36% respectivamente. Mas a queda nos preços foi reflexo da redução dos preços administrados, energia elétrica e a gasolina, via redução das alíquotas de ICMS, e os preços dos alimentos e outros bens seguiram subindo.
É verdade que, de acordo com o boletim Focus desta semana, a estimativa do mercado para o IPCA de 2022 recuou pela 12ª semana consecutiva e está em 6% para 2022 e 5% para 2023, mas isso ainda não dá segurança ao Banco Central para iniciar o ciclo de queda nos juros, pois a queda nos preços ainda não se disseminou. Além disso, a economia está aquecida, mesmo com a taxa de juros nas alturas, e a redução da Selic poderia favorecer a novos aumentos de preços, já que existe demanda em alguns setores para absorver novos aumentos. O PIB cresceu 1,2% no segundo trimestre e o mercado de trabalho está aquecido, com o desemprego caindo, e esses são fatores que elevam a demanda e podem dar espaço para o recrudescimento da inflação.
Pode-se afirmar, no entanto, que, mantidos os atuais parâmetros, a taxa de juros deve ficar estabilizada ou cair até o final do ano, já que os preços do petróleo estão caindo e a expectativa é de reversão do choque de oferta com a possível recessão que se avizinha nos países da Europa e nos Estados Unidos. Há um aspecto adicional: uma redução dos juros poderia passar a ideia de que o ciclo eleitoral estaria influenciando a decisão do Banco Central, num momento em que se procura afirmar a autonomia da autoridade monetária. Aqui vamos lembrar que seja qual for o presidente eleito ele vai ter de conviver com atual presidente do BC, já que a lei em vigor desde fevereiro de 2021 determina mandatos fixos de quatro anos ao presidente e aos diretores da autarquia, renovados apenas uma vez e com mandatos não coincidentes com o do presidente da República.
O fato é que o Copom mostrou uma forte dose de responsabilidade, afinal, além da volatilidade do período eleitoral, existe uma crise fiscal pairando no ar, com direito a vários rombos no orçamento, e que terão de ser resolvidos no ano que vem, seja quem for o presidente. Melhor, portanto, garantir a austeridade da política monetária, para que não haja espaço para a inflação se elevar. Até porque, embora as projeções de inflação estejam caindo para o ano que vem, elas ainda permanecem acima da meta buscada pelo BC em 2023 e em 2024, quando o mercado prevê 3,5%.
É preciso ter consciência, no entanto, que a taxa de juros está em quase 6% em termos reais, patamar que implica em baixo crescimento em 2023, por isso, é preciso, já na próxima reunião do Copom, dar início ao ciclo de redução da taxa Selic.