Animado com as informações sobre as vendas das camisas da seleção brasileira em ano de Copa do Mundo, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, perguntou recentemente a assessores quanto a entidade receberia de royalties da Nike.
“Nada”, foi a resposta.
No próximo mês, Rodrigues vai se reunir pela primeira vez desde que foi eleito para o cargo, em março deste ano, com executivos da multinacional norte-americana, a mais antiga patrocinadora da CBF. Reivindicar o pagamento de uma porcentagem da venda de camisas se tornou um dos itens da pauta, apurou a Folha.
Entre as 32 seleções classificadas para a Copa do Mundo do Qatar, que terá início em novembro deste ano, a Nike tem contrato de fornecimento de material esportivo com 13. Na última semana, a empresa divulgou oficialmente o desenho dos uniformes que serão usados no torneio pelas equipes, entre elas o Brasil.
Consultada pela reportagem, a CBF disse que não se pronuncia sobre os seus contratos. A Nike não respondeu.
No encontro com os executivos da companhia, Ednaldo Rodrigues deverá falar também sobre a introdução no contrato da cláusula anticorrupção, pedida pela Nike. A fornecedora de material esportivo deseja colocá-la no papel após os escândalos com últimos presidentes da confederação. Rodrigues afirma aceitar a ideia e tomar a iniciativa de discuti-la.
Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e José Maria Marin foram envolvidos no Fifagate, a investigação de corrupção na Fifa (Federação Internacional de Futebol) feita pelo FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. Marin foi preso, e Del Nero poderá ter o mesmo fim se sair do Brasil. Rogério Caboclo acabou afastado da presidência após denúncia de assédio sexual.
A Nike havia proposto no passado a inclusão da cláusula, mas a ideia foi rejeitada.
A CBF também negocia uma prorrogação de contrato, que pode ir até 2030, desde que sejam pagas luvas à entidade no momento da assinatura.
Os contratos da Nike com as federações nacionais são sigilosos, mas a CBF tenta descobrir se a empresa paga comissões a outras seleções pela venda de camisas. Mesmo que a empresa não o faça, a reivindicação vai permanecer.
Há um precedente. Durante a Copa América de 2021, o Chile entrou em litígio com a Nike por uma disputa contratual. Uma das reclamações era que a fornecedora do material esportivo reteve pagamentos que deveriam ter sido feitos à federação nacional. Um deles referente aos royalties dos uniformes comercializados entre julho de 2019 e julho de 2020.
Em clubes, tal pagamento é praxe. Na Premier League inglesa, a liga nacional mais rica do mundo, o padrão é a equipe receber 7,5% do valor de cada camisa vendida. Segundo a imprensa britânica, quem obteve o maior percentual na negociação do seu contrato foi o Liverpool: 20%. A fornecedora do uniforme do clube é a Nike.
A multinacional é patrocinadora da CBF desde 1996. O documento foi assinado na gestão de Ricardo Teixeira e recheado de polêmicas. A Folha obteve, em 1999, cópia do acordo original, em que a confederação cedia parte do controle sobre a seleção brasileira para a empresa norte-americana.
A equipe teria os adversários escolhidos pela Nike em 50 amistosos por dez anos. Teriam de estar em campo pelo menos “oito titulares” da seleção em cada um deles.
De acordo com reportagem da ESPN Brasil, a CBF recebe da Nike atualmente US$ 35,5 milhões (R$ 187,8 milhões pela cotação atual) por ano. É quase o dobro do que a Adidas paga para patrocinar a Argentina (cerca de US$ 20 milhões ou R$ 105,8 milhões).
Segundo balanço publicado no site da CBF, a entidade recebeu R$ 575,7 milhões de patrocínios no ano passado. Os contratos referentes à seleção brasileira representam 98% desse valor.