Desde que os casos de monkeypox (varíola dos macacos) ganharam as manchetes dos jornais, a recepcionista Aline Farias, 32 anos, está tensa. Ela não é a única preocupada com a disseminação do vírus. O aumento no número de casos levou a prefeitura de Salvador a criar um protocolo específico para lidar com a doença. A capital registrou nove pacientes infectados e 43 com suspeita de infecção.
A partir de segunda (8), 44 unidades de saúde passam a atender as pessoas com suspeita de varíola e a coletar os materiais que serão testados. Especialistas elaboraram o passo a passo do atendimento. A notícia deixou Aline um pouco mais aliviada. “Para quem trabalha com o público, como é o meu caso, todo cuidado é pouco. Sei que preciso usar máscara, mas quero saber o que mais posso fazer para me proteger”, disse.
Os detalhes foram apresentados pelo secretário municipal de Saúde (SMS), Décio Martins, nessa quarta-feira (3). O gestor explicou que o Município vai disponibilizar 28 unidades básicas de referência para atendimento e coleta laboratorial, além das 16 unidades de urgência e emergência que já recebem os pacientes. Décio frisou que o protocolo não deve causar pânico e que o objetivo é servir como ferramenta de informação.
“Os protocolos servem para orientar a população sobre quando procurar nossas unidades e quais cuidados adotar para evitar a disseminação da doença e para se proteger. O objetivo é informar as pessoas sobre quando procurar as unidades de saúde. Por enquanto, os casos têm sido leves e, dos nove, quatro já estão curados”, afirmou. A monkeypox é uma doença viral. O paciente apresenta sintomas como febre, dor de cabeça, dores musculares, linfonodos (nódulos no pescoço, axila e virilha), calafrios e exaustão, mas o principal indicativo é o aparecimento de erupções (bolhas) na pele, principalmente na boca e na genitália.
Protocolo
Quem apresentar os sintomas deve procurar uma das unidades de saúde. Nos casos suspeitos, o paciente deve ser isolado, inclusive do contato com a família, até que o resultado do exame fique pronto. Talheres, roupas de cama e outros objetos não devem ser compartilhados. A recomendação é procurar ajuda médica assim que notar o aparecimento das bolhas. Elas não devem ser estouradas e podem ser higienizadas com água e sabão.
A infectologista da SMS Adielma Nizarala contou que a doença tem um período de incubação, ou seja, em que mesmo infectado o paciente não consegue transmitir o vírus, que é o período assintomático. Depois que os sintomas surgem, a contaminação já é possível e permanecerá ativa até que a pele seja cicatrizada.
“A doença tem duas fases. Na fase inicial o paciente vai sentir dor de cabeça, dor muscular, dor de garganta, febre, sintomas bem comuns às viroses, e dura em torno de cinco dias. A partir disso, as lesões começam a aparecer, únicas ou múltiplas, e em locais variados. Podem se apresentar inicialmente como um ponto de vermelhidão que depois evolui para uma placa e solta as bolhas”, explicou.
Como a transmissão acontece através do contato com as feridas e também através das gotículas das vias áreas, é importante usar máscara. Nos casos leves, será usada medicação para tratar os sintomas, e nos casos graves, medicação específica. “A Organização Mundial da Saúde ainda não definiu uma necessidade de vacinação em massa, mas já temos alguns países utilizando em grupos específicos”, afirmou. Procurado, o Ministério da Saúde informou, em nota, que está em busca de imunizantes, mas não informou quando eles serão enviados aos estados.
“O controle da monkeypox é prioridade para o Ministério da Saúde, que realiza o constante monitoramento da situação epidemiológica para orientar ações de vigilância e resposta à doença no Brasil. A pasta segue em tratativas com a OPAS/OMS para aquisição da vacina contra a doença. Desta forma, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) poderá definir a melhor estratégia de imunização para o Brasil”, diz a nota.
Atendimento
O teste é feito através do recolhimento da secreção que sai das bolhas. Existem quatro laboratórios no Brasil que fazem a análise do material, e Salvador está referenciada com a unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. O resultado é divulgado cerca de uma semana após a coleta.
Quando procurar uma das 44 unidades disponíveis na capital, o paciente será isolado das demais pessoas presentes no posto, e um profissional de saúde fará a coleta do material. Os sintomas persistem de duas a quatro semanas, e o isolamento pode durar até 21 dias. Em Salvador, existem pacientes confirmados ou com suspeita de infecção em quase todos os distritos sanitários. O único sem casos confirmados e sem suspeitas é a Liberdade, onde duas situações foram analisadas e descartadas.
O distrito sanitário do Cabula/ Beiru é o que tem o maior número de casos. São três pacientes confirmados e sete suspeitos de estarem infectados. Em seguida, aparecem Barra/ Rio Vermelho, com duas confirmações e duas suspeitas; Brotas (1 confirmação e 6 suspeitas); Boca do Rio (1 confirmação e 1 suspeita); Centro Histórico (1 confirmação e 1 suspeita); Itapuã (1 confirmação e 1 suspeita). Cajazeiras (1 suspeita); Itapagipe (3 suspeitas); Pau da Lima (2 suspeitas); São Caetano/ Valéria (8 suspeitas); e Subúrbio Ferroviário (1 suspeita).
Segundo o boletim da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), a Bahia tem 12 casos confirmados de varíola, um caso provável e ao menos 50 pacientes com suspeita de estarem infectados. Salvador lidera a lista das três cidades que confirmaram a presença da doença, sendo seguida por Santo Antônio de Jesus (2 confirmações e 1 suspeita) e Ilhéus (1 confirmação).
Existem outras cidades com suspeita da doença: Itaberaba (4), Santa Cruz Cabrália (4), Ibicaraí (3), Camaçari (2) e Lauro de Freitas (2). Há também 22 municípios com ao menos um caso suspeito, são eles: Amargosa, Aratuípe, Barra, Cairu, Camamu, Canarana, Conceição do Coité, Conceição do Jacuípe, Cruz das Almas, Dias D’Ávila, Itapebi, Itiruçu, Jaguaripe, Juazeiro, Nazaré, São Gonçalo dos Campos, São Miguel das Matas, São Sebastião do Passé, Serra do Ramalho, Ubaíra, Vitória da Conquista e Xique-Xique. Outros 32 casos foram descartados.
Confira o passo a passo estabelecido pelo protocolo:
Confira as medidas preventivas:
Confira onde buscar ajuda: