A exemplo do que fizemos em 2018, à medida que as propostas dos candidatos a presidente da república forem sendo divulgadas, a nossa ideia é trazê-las para este espaço, para fins de análise e discussão. Até onde sabemos, a proposta do pré-candidato Ciro Gomes, exposta , no livro “Projeto Nacional – o dever da esperança”, editado em 2020, é a única disponível até o momento.
No livro acima citado, as ideias começam a ser formuladas para o agronegócio já no âmbito da política industrial, oportunidade em que Ciro prioriza quatro áreas em nosso ciclo industrial: o complexo do petróleo, gás e bioenergia; o complexo industrial da saúde; o complexo industrial da defesa; e o complexo industrial do agronegócio.
Depois de destacar a importância do segmento para o superavit da balança comercial e das nossas exportações (atualmente no patamar acima de 120 bilhões de dólares anuais), ele afirma que ” a decisão de desenvolver um complexo industrial numa área na qual temos a base primária mais sólida do mundo é praticamente um imperativo econômico”. Ele prevê o incentivo de indústrias de processamento de cereais e frutas, visando exportá-las não somente em seu estado bruto, ou seja, sob a forma de commodity. Outros eixos são a revitalização da EMBRAPA e e a criação de uma indústria brasileira de fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas. Hoje, investir em fertilizantes é praticamente uma unanimidade nacional , sobretudo após o conflito Rússia-Ucrânia revelar os elevados e preocupantes coeficientes de importação do país, ao redor de 85% das nossas necessidades anuais. O governo atual inclusive tratou de elaborar recentemente um Plano Nacional de Fertilizantes, para reduzir substancialmente as compras externas desse insumo num horizonte de 30 anos.
Conquanto Ciro defenda uma grande prioridade para o setor industrial, ele não negligencia a nossa vocação para ser um grande produtor mundial de alimentos.
Nesse sentido, segundo ele, caberia ao Estado assegurar o suporte financeiro, já que em sua avaliação o setor bancário não cumpre adequadamente esta função. Igualmente importante é o governo “voltar” a promover os avanços tecnológicos que possibilitaram a ocupação produtiva dos cerrados, especialmente com cultura da soja. O candidato parece desconhecer o fato de que a EMBRAPA já ” tropicalizou ” o trigo com a criação de variedades adaptadas para o cultivo nos cerrados e nas áreas tropicais de altitude do Centro-Oeste e do Nordeste, a exemplo do Oeste baiano e da Chapada Diamantina. E este esforço de tropicalização já se estende para espécies de fruteiras de clima temperado, com a possibilidade de cultivo de caqui, pera e maçã, dentre outras lavouras, nas áreas irrigadas da Bahia e de outros estados do Nordeste.
Finalmente, o candidato prega o apoio à agricultura familiar ( coisa que ninguém discorda), amparado, porém na falsa premissa de que 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros são provenientes da produção familiar. Já se disse aqui que o renomado professor Rodolfo Hoffmann, da Esalq, discorda categoricamente desta afirmação, e os números , em termos de valor da produção, revelam exatamente o oposto, isto é, entre 70 e 75% do valor bruto da produção agropecuária brasileira são referidos à produção de maior escala. Então, nesse ponto, queremos ressaltar nosso total apoio às propostas para a agricultura familiar (tanto esta como a agricultura de maior escala são importantes para o país). Nesse particular inclusive, na nossa visão de organização institucional de apoio ao setor, todas as funções relativas ao setor agropecuário, incluindo irrigação e as ações concernentes a assentamentos e reforma agrária, ficariam, em nossa avaliação, sob a coordenação do Ministério da Agricultura, e, nos Estados, sob o comando único das secretarias de agricultura.