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ACERVO DA TV CULTURA NO YOUTUBE PRESERVA MEMÓRIA BRASILEIRA

Redação - 18/04/2022 15:52

Confesso que tenha uma quedinha pelo passado. Em outras oportunidades, já escrevi aqui neste espaço sobre novela antiga, filme antigo e música antiga. Há quem diga que isso é nostalgia, mas nem sempre é o caso, afinal me interesso pela cultura produzida antes mesmo de eu nascer. Prefiro dizer que é mesmo um interesse pelo passado e, principalmente pela memória.

E, lamentavelmente, o Brasil é um país pra lá de ingrato com sua memória cultural. Mas ainda bem que a TV Cultura está aí pra nos salvar! E o melhor: uma grande parte do acervo da melhor TV pública do país, sediada em São Paulo, está ao acesso de todos, gratuitamente, no YouTube. E tudo com uma qualidade para lá de aceitável, incluindo coisas bem antigas, da década de 1970.

No canal oficial da emissora, você vai encontrar entrevistas históricas no Roda Viva; apresentações de estrelas da MPB no clássico Ensaio; a riquíssima música do interior do país no excelente Sr. Brasil, apresentado por Rolando Boldrin, e uma importante série documental sobre a história da televisão brasileira.

O Roda Viva, que estreou há 36 anos, tem entrevistas com personalidades das mais diversas áreas, seja do esporte, da política, da cultura ou ciência. Há depoimentos históricos como o da apresentadora Hebe Camargo sobre a a legalização do aborto, em 1987. “O que as pessoas têm que pôr na cabeça é que não é pelo fato de legalizar uma coisa que você vai ser obrigado a fazer”.

Há ainda entrevistados que já estiveram no programa diversas vezes e isso é bom porque você pode ver como eles mudaram – não só fisicamente, mas intelectualmente – à medida que o tempo passa. De Gilberto Gil, por exemplo, há três entrevistas disponíveis, de 1987, 1996 e 1999. Na mais antiga, Gil surpreende e diz que leu “muito pouco”, pelo menos até ali. Diz que leu Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge Amado…

Mas nenhum o tocou como o francês Jean-Paul Sartre: “[Ele] Me deu essa perspectiva de um pulsar do coração humano com uma força muito grande. Sarte é um paradigma de referência filosófico-literária”.

O Ensaio, criado por Fernando Faro, mistura entrevista e apresentação musical. Passaram ali Caetano, Gil, Marisa Monte, Belchior, Chico Buarque e outras estrelas da música brasileira. Tim Maia, em 1997, cantou seus clássicos e, espirituoso como sempre, soltou essa, falando sobre a experiência de ter o próprio selo fonográfico: “Distribuir CD  é facílimo. O grilo é distribuir queijo minas, manteiga sem sal e iogurte natural. Porque é perecível e estraga em dois dias”.

Anos antes, Caetano esteve lá numa edição especial que durou duas horas o dobro do normal. Lembrou-se de quando visitou o Brasil quando ainda estava exilado em Londres e falou de seu medo ao chegar ao país. Mas ficou aliviado ao ser recebido com sorriso até pelas autoridades que atuavam na alfândega. Tem outra entrevista histórica de Caetano, no programa Vox Populi. Foi dali que saiu o famoso meme em que ele diz “Como você é burro!”.

E tem muito mais no acervo da Cultura, como o Campeões de Audiência, sobre os 70 anos da TV brasileira, com depoimento de gente fundamental como Boni e Daniel Filho. Sr. Brasil, apresentado por Rolando Boldrin, recebe artistas que não chegam à grande mídia e fazem a riquísisma música do interior do país. Ou, se preferir, pode chamar de sertanejo “raiz”.

E como esquecer de Antônio Abujamra em Provocações, em que, sempre muito performático, o ator dava uma cutucada no convidado? Pra começar, veja o encontro dele com Ariano Suassuna.

 

 

FONTE: CORREIO

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