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RAUL VELLOSO NO BAHIA ECONÔMICA: CHOQUE DE OFERTA GLOBAL PUXA INFLAÇÃO QUE ‘SURPREENDE’ PRESIDENTE DO BC

Redação - 12/04/2022 20:19 - Atualizado 13/04/2022

Por Thiago Conceição

Em entrevista ao Bahia Econômica, o economista Raul Velloso comenta o cenário de alta da inflação no país e consequente “surpresa” do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto com o panorama (veja aqui). Para Velloso, a aceleração inflacionária passa por questões como o choque de oferta global gerado pela guerra na Ucrânia.

“A inflação está crescente pelo lado da oferta, diante das rupturas que estamos enfrentando há alguns meses. A guerra na Ucrânia deixa a situação dos produtos crítica no mundo. E o Brasil não fica fora deste contexto. Tudo passa a funcionar no ritmo da guerra, com escassez de produtos em diferentes lugares”, explica Velloso.

Para entender o movimento de alta da inflação, o economista destaca o exemplo do trigo, cuja demanda foi afetada pela guerra na Ucrânia, grande produtora da mercadoria. Com a desorganização na produção de trigo, a subida de preços ocorre por consequência, diante do custo para a aquisição do produto por outros meios.

Velloso acrescenta que o aumento de preços de outros produtos consumidos mundialmente, a exemplo do petróleo, afeta setores importantes como o de transportes, que usa muito dos seus derivados. Com isso, ocorre o aumento nos preços dos fretes, gerando o chamado choque de oferta de preços. E apesar do Brasil ser autossuficiente em petróleo, isso não significa que o país não seja afetado em algum momento, pois não está isolado da economia mundial, destaca o economista.

“Você tem o choque de oferta nos preços, onde a demanda está fria, mas o choque de oferta vai de encontro ao preço. O presidente do Banco Central deve ter imaginado que o choque de oferta não seria tão pesado na inflação. E o choque vai afetando uma cadeia grande de produtos e serviços. Se soubesse do impacto, talvez tivesse subido mais a taxa de juros achando que poderia contrabalancear a oferta reduzindo a demanda. Mas se isso não fosse suficiente, teria o cenário de inflação alta com desemprego”, explica Velloso.

Neste panorama, o economista acrescenta que um caminho seria fazer pouca contenção de demanda, para evitar o aumento de desemprego, mas pensar medidas que não sejam artificiais para a economia. “Existe o dilema com aquilo que vai acontecer com a classe menos favorecida da população, que não está preparada para absorver esse tipo de choque. Em ambientes críticos, a última preocupação é com o fiscal ou dívida pública. É preciso fazer aquilo que for necessário para amenizar os efeitos da guerra”, conclui.

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

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