A inflação alcança números altíssimos, as taxas de juros também. O que fica lá embaixo é o saldo bancário, gerando um mar de dívidas. Na Bahia, 4.138.037 pessoas estão com o nome sujo, o que representa 37% da população. São mais de 12 milhões de pendências que somam cerca de R$ 12 bilhões. Apesar disso, estado ocupa apenas o 22º lugar no ranking dos mais endividados do país.
Os dados são de janeiro deste ano e foram fornecidos pelo Serasa. De acordo com o órgão, os principais causadores das dívidas baianas são bancos e cartões, com 28%, utilidades (contas básicas, como luz, água e gás), com 25%, e varejo (19%). Através do Feirão Limpa Nome, que acontece até o dia 31 de março, é possível quitar as dívidas com descontos de até 99%. Confira no final da reportagem como sair da inadimplência.
A especialista do Serasa, Patrícia Camillo, explica porque os bancos e cartões são os campeões do ranking. “O cartão de crédito é um mecanismo muito usado pelos brasileiros. Além disso, ele tem um dos juros mais altos do mercado. A partir do momento em que a pessoa contrai uma dívida em cartão, mesmo que inicialmente pequena, ela acaba virando uma bola de neve por conta dos juros sobre juros que vão aumentando”, diz. Apesar da maioria dos débitos serem de valores baixos, alguns podem chegar a mais de R$100 mil.
Sobre o segundo lugar, Patrícia afirma que revela a face cruel da crise financeira atual. “São contas de gás, luz, água, ou seja, básicas. Então isso mostra o quanto os brasileiros estão num cenário difícil de inflação, preços altos e taxas de juros, como a Selic, muito altas. Isso diminui o nosso poder de compra e diminui o nosso acesso ao crédito”, acrescenta.
O mototaxista Flávio Nascimento, de 30 anos, está envolvido em dívidas com contas do setor de utilidades, mas também que envolvem a sua moto e outras coisas. São tantas dívidas que ele já não sabe mais dizer o valor total que deve. “Eu sou autônomo e estou com dívidas no MEI, são boletos atrasados desde o início da pandemia. Agora, também estou com contas de luz em atraso. E por aí vai porque falta dinheiro para alimentação. Outro dia acabou o gás e eu saí rodando para fazer pesquisa de preço, o mais barato foi R$100”, conta.
Flávio diz que já tentou limpar o nome, mas foi aí que descobriu outras dívidas e, ao tentar parcelar os valores, se complicou ainda mais. “Eu fui ver uma dívida e descobri que tinha outras. Só com o Bradesco, a dívida era de R$11. Aí eu fui parcelar, mas complicou. É difícil porque fiquei parado na pandemia. Até hoje o negócio não está bom. Hoje mesmo eu não consegui nenhum serviço ainda de delivery e como mototaxista também não apareceu nada”, lamenta.
Patrícia Camillo confirma que o aumento das dívidas como consequência da pandemia já pode ser percebido. “O Nordeste voltou ao patamar de dívidas de abril de 2020, quando mal era possível notar os efeitos da pandemia. Ao longo da pandemia, tivemos uma baixa por conta dos auxílios do governo, mas, agora, retrocedemos, acompanhando a alta da inflação e das taxas de juros”, destaca a especialista.
Justamente por isso, em 2022, está sendo realizada uma edição extra do Feirão Limpa Nome. Os feirões acontecem, geralmente, no final do ano. Em 2021, aconteceu em novembro, com tendas físicas acumulando longas filas. Em 2022, o Serasa abriu uma exceção e está realizando agora uma edição extra. “Agora em março, está sendo realizada uma edição especial devido ao cenário de crise e aumento de dívidas”, explica Patrícia Camillo.
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