Patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1941, e antiga residência do poeta dos escravos Castro Alves, o Solar Boa Vista, no Engenho Velho de Brotas, tem a possibilidade de, finalmente, voltar a ser utilizado de forma condizente com sua história, que nos últimos anos tem sido de abandono.
O complexo arquitetônico, que também já abrigou um asilo e hospital psiquiátrico, e até foi sede da Prefeitura de Salvador e Secretaria Municipal de Educação nos anos 1980, pode se transformar no Museu da Libertação, conforme projeto apresentado ao Governo do Estado pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), através do seu presidente Joaci Góes.
“Estive com a secretária da Cultura, Arany Santana, e encontrei dela a maior receptividade, e colocamos a questão para que ali edifiquemos o Museu da Libertação”, comentou Joaci, em entrevista à Rádio Metrópole, nessa segunda-feira (21).
Ele mencionou as questões históricas que sustentam a necessidade de um espaço de representação, como o fato de Salvador ser a cidade mais negra fora da África, além de ter sido um dos principais polos receptores de pessoas escravizadas que vieram do continente africano.
“Além disso, o casarão foi de propriedade de um senhor de escravos. A torre que ele edificou era onde ele subia para olhar, da linha do horizonte, para verificar se o navio negreiro, clandestinamente, chegava para despejar os escravos onde é hoje o Hotel Iemanjá (Boca do Rio), ao lado do qual existe uma ruína de um ponto onde os escravos desciam, e que preserva o nome de ‘chega-nego’”, contextualizou, sugerindo portanto uma compensação histórica desse desserviço.
Além de Castro Alves, a ideia é que o espaço homenageie outras grandes personalidades abolicionistas, como o advogado Luiz Gama e sua mãe, Luiza Mahim.
Antes de ir morar no Solar Boa Vista, Castro Alves e família chegaram a viver na Rua do Rosário (hoje Avenida Sete), em um casarão que foi demolido para dar lugar a um prédio comercial, bem próximo à Praça da Piedade, e depois também morou na Rua do Passo (Pelourinho), onde veio a falecer também. A família dona deste casarão no Centro Histórico mantém um memorial por lá, atualmente.
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