A guerra na Ucrânia tem pressionado ainda mais o preço do petróleo no mercado internacional. Economistas avaliam que essa alta não é pontual, e as consequências desse confronto fora do campo de batalha ainda devem se estender por muitos anos. A guerra na Ucrânia não é sobre a Ucrânia apenas. Nunca foi. Enquanto as tropas russas atravessavam a fronteira, o resto do mundo via o preço do barril de petróleo encostar nos US$ 100. E era só o começo.
A Europa e os Estados Unidos reagiram com sanções econômicas que dificultaram comércio com Rússia – grande exportadora de petróleo – e o preço explodiu: quase US$ 130 na Bolsa de Londres. Mas, nos dias seguintes, parecia que oferta e demanda de óleo iam se equilibrar. De um lado, as negociações de paz alimentaram expectativa pelo fim da guerra. Do outro, a China – grande consumidora de energia – decretou lockdown em centros econômicos importantes depois de bater recorde de casos de Covid. O barril voltou a ser negociado abaixo dos US$ 100.
Durou pouco. Nos dias seguintes, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deixou claro que um acordo com a Ucrânia não está próximo, e o preço subiu de novo. “Existe uma relação direta na medida em que a Rússia sendo o segundo maior produtor de petróleo do mundo, se beneficia bastante, sim, do aumento do preço dentro do mercado internacional. Fica muito nítido dentro desse contexto que quanto maior for o preço do barril de petróleo, mais a Rússia está ganhando pelo produto”, explica Juliana Inhasz, professora de economia e finanças do Insper.
Os efeitos da guerra na Ucrânia vão além do preço do petróleo. O conflito já começou a mexer nas relações internacionais. Os países europeus começaram a buscar alternativas às fontes de energia que vêm da Rússia e acabar com atual dependência até 2030. Quanto mais tempo durarem as sanções, maior é o risco de a Rússia perder espaço nas transações internacionais de petróleo. Neste sábado (19), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, fez um esforço para lembrar a importância do país no equilibro desse mercado. Ele disse que as atuais relações dos países da Opec+ – que reúne grandes produtores de petróleo – continuarão sendo necessárias, mesmo com novos participantes surgindo no comércio mundial de óleo.
“O que a gente enxerga nas últimas semanas no continente europeu é uma movimentação e uma transformação histórica de um plano de soberania energética da Europa e que é muito significativo. Isso tende a ampliar as relações econômicas entre China e Rússia. A Rússia se transformando em um grande fornecedor de energia e também de commodities, principalmente grãos, para o mercado chinês – e também para própria Índia”, diz Felipe Loureiro, professor do de Relações Internacionais da USP. Mesmo antes da guerra acabar, de um exército se declarar vencedor, uma derrota já é dada como certa.
“Essa guerra na Ucrânia, claramente, já é o maior erro estratégico que Putin cometeu em mais de duas décadas de carreira. Ele vai terminar com uma Europa mais unida, com uma Otan mais fortalecida e, portanto, ele vai sair menos seguro dessa guerra do que ele entrou. A gente precisa entender essa guerra do ponto de vista dos europeus como o equivalente ao 11 de Setembro para os americanos. O que aconteceu no 11 de Setembro não foi a queda, apenas, das torres gêmeas. O que aconteceu foi uma mudança na sensação de segurança dos americanos e isso reorientou a política externa americana para os próximos anos. Vamos ver agora a mesma coisa no caso da Europa”, afirma Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP.
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