Fechada por conta da pandemia desde o dia 17 de março de 2020, quando as primeiras medidas restritivas foram impostas pelo governo do estado, a Universidade Federal da Bahia (Ufba) começa, nessa segunda-feira (7), o semestre letivo presencial. A universidade se sentiu segura para receber de volta estudantes, corpo docente, servidores, além do expediente terceirizado. Somando tudo, envolve mais de 50 mil pessoas – maior do que a capacidade prática da Fonte Nova, que recebe até 48 mil pessoas em seus jogos mais disputados.
O retorno gera expectativas para toda essa comunidade. Amigas e dividindo apartamento, as paulistanas Tayná Benecke, 22, e Larissa Ignácio, 23, vivem experiências tão distintas quanto próximas, de forma simultânea. Estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BI em C&T), Tayná diz que estava ansiosa para o retorno porque valoriza o contato e a importância de estar próxima às pessoas para a sua formação, mas, ao mesmo tempo, reclama de desorganização: ela teve dificuldades em montar a grade no sistema virtual da Ufba e chegou a correr o risco de ficar com apenas uma matéria em seu quarto semestre de curso.
“Tem matéria que diz que vai ser presencial, outras on-line. Para conseguir informação tem que ter muito contato e eu que sou veterana estou sentindo dificuldade. Para conseguir algumas informações está bem caótico, uma pena porque estava bem animada para voltar, mas ainda estou bem insegura”, afirmou. Estudante de Direito, Larissa Ignácio, 23, só teve uma aula presencial em toda a sua graduação. Ela iniciou as aulas justamente no semestre de 2020.1, quando a pandemia estourou.
“Eu estou bem ansiosa porque assim que entrei na faculdade não consegui vivê-la, e era algo que queria muito. Estou ansiosa para ter contato com alunos, professores, participar de extensões. No meu colegiado está bem organizado, mas senti falta de um pouco mais de comunicação, um e-mail, algo assim”, disse Larissa.
Acolhimento
A Ufba está chamando os primeiros cinco dias de “Semana do Acolhimento”, voltada a orientar e tirar dúvidas de docentes, técnicos e estudantes antes do tão esperado reencontro presencial. A Semana de Acolhimento acontecerá de 7 a 11 de março, com uma programação on-line de palestras e mesas que discutirão o cenário epidemiológico e trarão orientações acerca dos protocolos de biossegurança a serem adotados pela comunidade, além de informações sobre procedimentos acadêmicos, assistência estudantil e suporte tecnológico em função da pandemia.
Nesta primeira semana, a orientação da Universidade é que as aulas dos componentes curriculares presenciais sejam ministradas excepcionalmente on-line, deixando assim para o dia 14 a efetiva retomada presencial. Reitor da Ufba, João Carlos Salles afirmou que a primeira semana também é uma oportunidade para os professores de solicitar comprovação vacinal aos estudantes que ainda não apresentaram esse documento, a fim de atualizar as listas de controle de situação vacinal de cada turma – às quais todos os professores poderão ter acesso, a partir de 03 de março, através do portal. “Nossa comunidade tem mais de 50 mil pessoas, mas tivemos a resposta pelo formulário de comprovação vacinal, até sábado, de 44.010 formulários. Isso é muito significativo. Só de estudantes, foram 38.903 estudantes que responderam se tomaram a primeira dose, dose única e de reforço. O número mostra que 98,5% das respostas estão com o ciclo vacinal completo”, disse o reitor.
Quem não comprovar a vacinação em pelo menos duas doses será impedido de frequentar as aulas presenciais. Caso um aluno não aceite a decisão e insista em continuar, a orientação da Universidade é de que o professor encerre a aula e comunique o fato à direção. Além de permanecer impedido de desenvolver atividades presenciais, o estudante poderá ter sua inscrição nos componentes presenciais cancelada caso não comprove a vacinação até meados de abril.
A Ufba também dá, aos estudantes, a possibilidade de solicitar trancamento de matrícula, sem prejuízo ao tempo máximo de conclusão do curso, por se tratar de um semestre ainda em caráter especial, em função da pandemia. Ainda segundo Salles, durante a primeira semana de atividades, a Ufba vai continuar uma série de mutirões para reestruturação física dos campi. O fornecimento de energia elétrica foi restabelecido na última sexta (4). Os mutirões são realizados pela Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sumai), que faz serviços de adequação de salas e banheiros, pintura, requalificação das esquadrias, manutenção elétrica e jardinagem.
Diretora do Instituto de Geociências (Igeo/Ufba), a professora Olívia Oliveira explicou que, durante a pandemia, o Instituto trabalhou em parceria com funcionários terceirizados e equipe técnica para fazer a manutenção de laboratórios e manter a estrutura física do Instituto com usabilidade. O Igeo é responsável pelos cursos de Geologia, Geofísica, Geografia e Oceanografia – cursos que têm uma demanda prática e de aulas de campo muito latentes e que a Universidade tentou equilibrar para que os estudantes não tivessem o aprendizado comprometido durante a pandemia.
“Não ficamos parados, os terceirizados tinham datas e dias específicos para fazer limpeza não apenas em gabinete mas em laboratórios, sala de aula para não ter tanto prejuízo. Tivemos uma auxílio de nossos técnicos para frequentemente realizar mutirões e ajustem em equipamentos e salas”, afirmou.
Segundo João Carlos Salles, realizar atividades presenciais na primeira semana não é proibido. A decisão cabe a cada professor, de cada um dos departamentos da Ufba. O plano de biossegurança divulgado pela Ufba prevê pontos como distanciamento adequado à realização das atividades administrativas e acadêmicas; frequência e tempo de permanência das pessoas nos ambientes; horas de trabalho e uso dos elevadores são tratados no plano. De acordo com a Ufba, foram produzidos layouts de cada sala, auditório e laboratório, definindo o número máximo de pessoas que devem ocupar para cada atividade, o posicionamento das carteiras e mesas, assim como recomendações para as atividades de ensino tenham até duas horas de duração para cada turma, com intervalo entre as aulas, inclusive para possibilitar a limpeza e higienização.
Permanência
Uma preocupação dos estudantes e da administração da Universidade diz respeito às políticas de assistência estudantil oferecidas pela Ufba. De acordo com João Carlos Salles, o setor sofreu um corte de R$ 7 milhões somente em 2022 e a área vinha sofrendo com reduções de custos ao longo dos anos. Em maio de 2021, a pró-reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil, Cassia Virginia Bastos Maciel, estimou que 28 mil alunos seriam impactados de forma direta e indireta com os cortes orçamentários específicos do campo da assistência estudantil.”
Seria incorreto dizer que temos recursos suficientes. Eles já eram insuficientes antes mesmo da pandemia. Temos denunciado uma defasagem orçamentária perversa. Entretanto, pra nós é uma prioridade, temos uma programação de conversas voltadas aos mais vulneráveis para garantir a retomada do R.U, de auxílios, a Ufba não desassistiu os estudantes e foi fundamental essa assistência para que continuassem o desafio de estudar mesmo com a pandemia”, disse Salles ao garantir que ferramentas como o Buzufba, Restaurante Universitário, Residência e bolsas serão mantidas nesse retorno.
Segundo Cássia Maciel, haverá a inauguração do Restaurante Universitário do Canela ainda neste semestre e uma empresa licitada para fazer a operação do Buzufba enviou os protocolos de biossegurança e funcionamento, restando aprovação. A previsão é que o transporte retorne no final de março. Questionada sobre a situação de envio da lista para o Salvador Card, cartão de meia-passagem de Salvador, a Pró-Reitoria afirmou que os nomes foram enviados na primeira semana de março de 2022, através de rotina automática do sistema. Quem não aparece na lista do site, neste link, deve entrar em contato com o e-mail: [email protected].
Pró-reitor de Ensino de Graduação, Penildon Filho afirma que a própria Unesco identificou que a pandemia deixou um déficit gigantesco para a educação e que o retorno presencial se faz necessário para “correr atrás do prejuízo” e foi outro membro da Administração Central a mostrar preocupação com as ações de permanência, levando em consideração a quantidade de alunos em situação de vulnerabilidade no quadro discente da instituição. Mais do que retornar, o grande desafio é garantir a permanência.
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