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PIB PER CAPITA DO BRASIL DEVE VOLTAR A CAIR NESTE ANO

Redação - 03/03/2022 08:40 - Atualizado 03/03/2022

Mesmo com o crescimento da economia brasileira em 2021 e a superação de boa parte das perdas de 2020, ainda deve levar mais 7 anos para a população brasileira recuperar a renda e o nível de riqueza que tinha em 2013 – último ano antes das últimas crises, quando foi registrada a melhor marca histórica do Produto Interno Bruto (PIB) per capita no país. O resultado oficial do PIB e do PIB per capita de 2021 será divulgado nesta sexta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os analistas estimam que a economia brasileira cresceu ao redor de 4,5%, após o tombo de 3,9% em 2020, enquanto que o PIB per capita cresceu um pouco menos.

O PIB per capita é o resultado da relação entre a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e o número de habitantes. Como o Brasil continua registrando crescimento populacional, quando há uma retração na economia, o nível de riqueza e renda da população costuma encolher de forma mais acentuada que o PIB. Em outras palavras, o bolo ficou menor e passou a ter que ser dividido com mais pessoas, deixando o brasileiro mais pobre.

O PIB per capital funciona como um termômetro para avaliar o bem estar e nível de renda de uma nação, apesar de suas limitações, devido às desigualdades do país e pelo fato das riquezas não serem distribuídas da mesma forma para toda a população. Pelos cálculos do Ibre, o país precisaria crescer a um ritmo de pelo 3% ao ano daqui pra frente para retomar até 2026, ainda durante o próximo mandato presidencial, o patamar de riqueza e renda que vigorava antes do abalo da recessão de 2014-2016. Cenário considerado atualmente “quase impossível”.

O cenário base estima que só em 2029 o PIB per capita irá recuperar o nível de 2013, mas, para isso, o país precisa manter uma taxa de crescimento média anual da economia de 2,4%. “A nossa projeção tem inclusive viés de baixa, uma vez que entendemos que 2022 e 2023 ainda serão anos difíceis. Voltar para uma média de crescimento de PIB de mais de 2% não é trivial. E, se a gente conseguir isso, é só em 2029 [que retoma o patamar pré-crises]. Ou seja, 16 anos depois do pico de 2013”, afirma economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre e autora do levantamento.

A pesquisadora estima que o PIB per capita terminou 2021 ainda 1% menor que o registrado antes da pandemia (2019) e 7,7% abaixo da máxima histórica de 2013. Os economistas do mercado financeiro projetam atualmente um avanço de apenas 0,30% do PIB em 2022 e de 1,50% em 2023, bem abaixo da média global.

Com a economia ainda patinando, aumento da incerteza global com a guerra na Ucrânia e juros em trajetória de alta para conter a inflação impondo freios para uma retomada mais firme, há o risco do PIB per capita voltar a registrar queda em 2022, mesmo com crescimento da economia no ano.

O cenário esperado pelo Ibre para o PIB em 2022 é um pouco mais otimista que o da média do mercado, de crescimento de 0,60%, mas ainda assim insuficiente para evitar uma queda do PIB per capita no ano, estimada em -0,1%.

“O PIB depende de com quantos você tem que dividir o bolo. No Brasil, a despeito do PIB ser baixo, a população ainda cresce. A expectativa do IBGE é que a população vai crescer em torno de 0,7% em 2022. Como a nossa projeção para o PIB é de um avanço de 0,6%, esse cálculo mostra que infelizmente não tem bolo para todo mundo”, explica Silvia Matos.

Na visão da economista, o que deve dar algum suporte à atividade econômica no ano deverá ser a continuidade do processo de normalização do setor de serviços, sobretudo nos segmentos de caráter mais presencial e de serviços públicos, em meio ao avanço da vacinação e flexibilização das medidas de restrição para conter a propagação do coronavírus.

“O ano de 2022 começa com uma herança muito ruim em várias frentes. Fechamos 2021 com uma inflação extremamente alta, persistente e espalhada, o que desafio muito o Banco Central a subir mais os juros. Continuamos com preços de commodities e energia elevados no mundo, temos tensões geopolíticas e temos eleições domésticas, o que já torna o ano conturbado”, destaca a pesquisadora do Ibre.

Os analistas têm alertado para um cenário de maior incerteza doméstica por conta do ano de eleições presidenciais. “Num cenário de eleição, o investimento é prejudicado porque precisa de previsibilidade. Não sabemos quem será o novo governo. O que poderia ter um crescimento um pouco melhor seria o consumo, mas os juros subindo e inflação ainda forte tiram poder de compra das famílias. Então, não tem muito espaço para um crescimento do PIB per capita neste ano”, afirma Silvia.

Por ora, o Ibre projeta para 2023 um crescimento de 1,1% do PIB e avanço de 0,4% do PIB per capita. Um avanço médio acima de 2% só é visto como possível a partir de 2024, o que corresponderia a um crescimento do PIB anual per capita em torno de 1,5%. Tal performance permitiria a atividade econômica retomar o nível o patamar do pico de 2013 a partir de 2024, ao passo que o padrão riqueza da população seria recuperado somente em 2029, com um ‘delay’ de 5 anos em relação ao PIB em valores correntes em razão do crescimento populacional desde o início das crises.

Foto: divulgação

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