Já é o segundo ano consecutivo sem Carnaval, as festas de rua estão proibidas e o feriado não vai ter ponto facultativo na Bahia. Os baianos estão órfãos da tradição que marca, de verdade, o início do ano. Mas há quem vá curtir e fazer uma folia em casa mesmo, porque é o que dá, por enquanto. Aí vale de tudo: vestir uma fantasia, fazer uma playlist só das antigas, acompanhar a programação especial pela TV, assistir a uma live, alugar uma casa no Litoral Norte com amigos e até pintar o cabelo.
Em tempos normais, a estudante Fernanda Rabaçal, 24, estaria batendo perna por aí à procura de uma fantasia para curtir o Carnaval na pipoca. Ela está torcendo para ter Carnaval em 2023, mas, enquanto isso, vai fazer a festa em casa mesmo. “No ano passado eu não fiz nada porque acreditava que a pandemia ia melhorar e teríamos festa normal em 2022, mas isso não aconteceu. Então este ano eu decidi que iria fazer a minha festa em casa mesmo para matar um pouco a saudade”, explica.
“O carnaval é sobre se divertir, pular, dançar, cantar. Se a gente não está podendo ter isso na rua por causa da pandemia, a gente faz em casa mesmo e está tudo bem”, diz Fernanda. O plano de Fernanda é chamar alguns amigos e familiares para a sua casa no final de semana, já que, sem feriado, o expediente no trabalho vai ser normal nos dias de semana. “Vou botar uma fantasia, muito glitter e uma boa playlist com aquela mistura de axé, pagodão e até funk. E, claro, não pode faltar a bebida. A ideia é dar aquele clima da folia, com a diferença de que não vai ter o trio elétrico e a multidão”, acrescenta a estudante.
Já a professora de inglês Ana Carolina Brito, 27, resolveu colorir os cachos de rosa para entrar no clima da folia. Desde que se entende como gente, ela aproveita a festa momesca nos bloquinhos de rua em Mucuri, no Extremo Sul da Bahia, onde mora parte da família. Por conta da pandemia, a festa vai migrar para dentro de casa. “A gente sempre aproveita os feriados e datas comemorativas para se reunir com quem está perto. Como a família é grande, nem sempre dá para vir todo mundo, mas vamos fazer aquele bom e velho churrasco para o Carnaval”, conta Ana.
Ela confessa que o que gosta da festa não é a grande muvuca que acontece em Salvador, e sim de se divertir embalada por uma boa música. “Nunca gostei muito de muvuca. Depois da pandemia, gosto menos ainda”, afirma. Por isso, ela prefere se reunir nas praias de Mucuri com amigos, até o dia amanhecer. Sua banda preferida é Harmonia do Samba e as canções do grupo já estão garantidas na playlist do churrasco.
Como não dá para ir para rua, o publicitário João Gabriel Neri, 21, resolveu fazer um bloquinho numa casa alugada em Subaúma, no Litoral Norte, com alguns amigos. A reunião vai ter direito a abadá e tudo. “Amo Carnaval, vou do abre-alas até a quarta-feira de cinzas para a rua, todos os dias. E também sou apaixonado pela Linha Verde. É um lugar que me traz paz. Assim que passo do pedágio, parece que meu tempo para e não há espaço para momentos tristes. Este ano, vou unir o útil ao agradável e substituir a rua pela casa”, conta Neri.
Já a estudante Luiza Gonçalves, 20, vai caprichar na maquiagem, no glitter e planeja uma fantasia improvisada. Amante de Carnaval, ela começou a frequentar a festa ainda criança. “Comecei a ir desde a infância, porque minha família tem costume de ir e cresci no Carnaval de rua. Nunca fui muito de bloco e camarote, gostava de acompanhar um pouquinho cada trio, na pipoca, no Campo Grande e na Barra”, relembra Luiza.
A banda que ela mais gosta, atualmente, é o BaianaSystem. “Sempre que ouço alguma música deles, fico pensando: ‘meu deus, como queria estar atrás do trio’”, brinca. Ela também é amante dos blocos afro, como Ilê Aiyê e Olodum. “Esses dois anos têm sido bem tristes, fico chateada, mas entendo que é por algo maior, que seria inviável de acontecer. Mas tenho muita saudade e fico na esperança de melhorar, daqui para frente”, estima.
Sobre a playlist, Luiza diz que vai ser no aleatório, com o que achar na programação de interessante na televisão: “Depende muito, mas talvez a gente vá pelas clássicas”. Ela ainda considera encontrar os amigos, mas não para aglomeração. “Vou buscar programações alternativas, encontrar eles na praia ou fazer algo com um número mais controlado de pessoas”, completa Luiza.
Há ainda aqueles que não fazem ideia de como irão comemorar a folia. É o caso do estudante Breno Bastos, 20, que se apaixonou pelo Carnaval de Salvador na primeira vez que foi, em 2015. “Não imaginava o tamanho da festa e me apaixonei de primeira. Desde então, vou todos os anos, todos os dias que dá, na pipoca. Em 2020, fui em todos, do pré até o pós”, conta Bastos, que é de Teixeira de Freitas, no Sul do estado, e mora em Salvador há 7 anos. Para quem ama Carnaval e está sem planos que nem Breno, o Correio separou uma lista com playlists e programações na TV.
Foto: (Shutterstock)