Neste ano, a produção de café deve atingir 55,7 milhões de sacas de 60 quilos. Isso significa que os produtores deverão colher a 3ª maior safra do grão dos últimos anos, tendo um resultado inferior apenas aos anos de 2020 e 2018, que conseguiram, respectivamente, 63,08 milhões de sacas e 61 milhões de sacas. Pelo menos é o que evidencia o primeiro levantamento da cultura em 2022, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A estimativa, se for confirmada, representa um acréscimo de 16,8% em comparação a 2021. Os bons números são desejados devido a temporada anterior ter sido negativa para o setor, mas os cafeicultores baianos consideram a perspectiva otimista demais e vislumbram outro cenário.
O presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), João Lopes, que atua com a produção do grão há 43 anos, acredita que a safra nacional será menor que a precedente. De acordo com ele, a Conab faz ótimas análises em relação à cafeicultura, mas no momento atual os estudos devem ser feitos de maneira ainda mais meticulosa. Por isso, diz que novos levantamentos serão realizados e explica o porquê a produtividade tende a ser inferior: “Na Bahia, nós estamos há sete anos passando por uma seca no semiárido, onde temos mais de 70 municípios que produzem café. Cada vez mais, a produção dessa região vem diminuindo em função da falta de chuva regular. O estado de Minas Gerais, que é o maior produtor de café do Brasil, passou por um grande período de estiagem em 2020 e 2021, além disso, no último ano, teve uma grande área afetada pela geada, que também atingiu a produção de café do Paraná”.
Impacto do clima
Diante desses eventos (seca e geada), o presidente da Assocafé diz que é difícil ter boas expectativas, já que é complicado calcular quando a lavoura vai se recuperar. “Quando a plantação é afetada por geada, por exemplo, leva-se um tempo para descobrir se ela é capaz de brotar novamente ou se vai morrer e, com isso, um novo plantio terá que ser cultivado. A geada ocorreu no final de 2021, então ainda não temos como saber o que acontece com a produção que foi afetada, se ela está fadada a erradicação ou vai conseguir se recuperar”, esclarece João.
O especialista em classificação, degustação e controle de qualidade de café, presidente do Centro do Comércios de Café da Bahia, Silvio Leite, acredita que os problemas climáticos que alguns estados enfrentaram e/ ou ainda enfrentam podem atrapalhar o alcance da produção nacional esperada. Mas, quando o assunto é a safra baiana, as expectativas são boas. Segundo o especialista, a produção deste ano será maior que a de 2021 e menor que a de 2020. “Em comparação com as duas safras anteriores já colhidas, 2020 foi excelente em quantidade, o ano passado teve uma queda e a expectativa é que 2022 tenha uma safra melhor que a precedente”, diz.
A Bahia é o quarto maior produtor de café do Brasil. Em 2021, produziu 4,5 milhões de sacas, sendo a maior parte de café conilon. Além disso, conseguiu destaque com a produção de cafés especiais. No concurso Cup of Excellence, principal competição de qualidade para café do mundo, o procuto produzido em Piatã, na Chapada Diamantina, foi destaque.
Nesse cenário, o diretor de agroinvestimento da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura ( Seagri), Eduardo Rodrigues, avalia que o mercado baiano pode crescer. Ainda mais se a projeção da Conab se concretizar. “Os números são realmente muito favoráveis, haja vista as dificuldades enfrentadas pelos produtores, desde as condições edafoclimáticas (do clima ) até as oscilações de mercado ocasionados pelo aumento da inflação e do dólar. A expectativa positiva gera um incentivo para que novos investimentos sejam feitos na cafeicultura baiana, o que levará a uma diminuição do déficit de consumo”, diz.
Com a boa incidência de chuva, o estado se prepara para uma safra maior, mas o custo de produção ainda assusta os cafeicultores. “O diesel subiu demais, a energia elétrica, que é fundamental para a lavoura de café, também, e os insumos estão com valores elevados, principalmente o adubo. O produtor vai sofrer muito para investir nessa recuperação”, diz João. Por influência das condições climáticas adversas e do alto custo de produção, o preço da saca de 60 kg saiu de cerca de R$ 600,00 para R$ 1.550,00, o que, segundo Silvio, é um bom valor, principalmente para ajudar a cadeia produtiva.
“A cafeicultura é altamente social, ela distribui muito a renda. Isso porque é uma atividade que demanda uma grande mão de obra, o que faz com que a renda seja bem dividida. Por isso, trabalhar com bons preços ajuda a reconhecer o trabalho de todos na cadeia”, diz Silvio. Neste início de ano, a oferta de café no mercado interno passa por restrição, que ocorre devido à redução na produção em 2021, da demanda exportadora aquecida e pelo período de entressafra. Assim, mesmo com a maior produção estimada no país em 2022, a tendência é que os preços do produto se mantenham pressionados. Isso porque é esperado uma redução nos estoques mundiais para 2022.
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