As atrizes e sócias Marieta Severo e Andréa Beltrão celebram agora os 15 anos do Poeira, teatro que elas fundaram em Botafogo, no Rio de Janeiro. Mas comandar o espaço em meio à “guerra cultural” empreendida pelo governo Bolsonaro é um desafio, conta a dupla em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Elas dizem que o ambiente político afeta pessoalmente os artistas, desestimulando qualquer criatividade.
“Nunca se falou tanto na palavra ‘democracia’, por quê? Porque ela está sendo ameaçada todo santo dia. Temos que relembrar todo dia o que é a democracia, vendo as instituições ruindo por dentro. Esse ano é o ano de berrar, gritar, tentar convencer, tentar ver quem são esses 20% da população. Qual a alma de vocês para apoiar isso? Eu tenho medo”, diz Severo.
O teatro foi um dos muitos afetados pelos cortes de patrocínio da Petrobras em 2019. A realização dos projetos, que promoviam cursos de teatrólogos renomados do Brasil e do exterior, ficou então ainda mais difícil, segundo a dupla.
Na época do ocorrido, redes bolsonaristas comemoraram o suposto “fim da mamata”. Severo, aos 75 anos, diz que comentários do tipo não são motivados só por ignorância. “É má intenção. Conseguiram colar essa pecha na gente. A mamata deles continuou. Só não é desvendada porque eles se protegem.”
“Fizemos todo o Poeira com o nosso dinheiro. Mas não temos nenhum problema com a Lei Rouanet, a gente só tem a favor. Todos os países do mundo têm incentivo fiscal para a indústria cultural, que rende milhões e emprega milhões”, afirma Severo.
“Essa secretaria de Cultura que está aí não entende nada”, prossegue ela. Sem pestanejar, as atrizes declaram voto em Lula nas eleições de outubro.
Além do investimento das proprietárias, a bilheteria das peças consegue igualar o custo de manutenção do Poeira, mas segundo Beltrão e Severo raramente há lucro. Pouco antes da pandemia, as sócias bancaram novas oficinas. Agora, terão patrocínio do banco Itaú para os projetos pedagógicos, que em outros tempos chegaram a receber José Sanchis Sinisterra, expoente do teatro espanhol, e a diretora francesa Ariane Mnouchkine, fundadora do Théâtre du Soleil.
Foto: Tv Globo