A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (16) mostra que, para melhorar suas chances eleitorais no ano que vem, o presidente Jair Bolsonaro (PL) terá que reconquistar parte considerável do eleitor que votou nele no segundo turno da eleição de 2018 contra Fernando Haddad (PT). O levantamento revela que 4 em cada 10 apoiadores do presidente há três anos desertaram.
Num hipotético cenário de segundo turno novamente com o PT, desta vez representado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 63% dos que votaram em Bolsonaro contra Haddad na última eleição repetiriam a dose agora. Já Lula conquista 26% dos antigos apoiadores de Bolsonaro, enquanto 10% votariam nulo ou branco. Em outras palavras, 1 em cada 4 eleitores que rejeitaram o candidato do PT em 2018 estão dispostos a apoiar o nome do partido agora.
Uma explicação plausível para essa realidade é o desgaste do presidente, que se reflete em altos índices de desaprovação, sobretudo causados pela crise econômica e os problemas de gestão da pandemia. Já o PT não precisa se preocupar, ao menos por enquanto, com o fenômeno inverso, pois praticamente todos seus eleitores de 2018 estão fidelizados. No universo dos que votaram em Haddad no segundo turno da eleição passada, 95% dizem que agora vão de Lula. Apenas 2% dos que rejeitaram Bolsonaro dizem ter mudado de ideia e pretendem apoiar o presidente agora.
Na eleição de 2018, o atual presidente teve 55,13% dos votos no segundo turno contra 44,87% de Haddad, que substituiu Lula como candidato, na época cumprindo pena em Curitiba por corrupção. No começo do ano, a condenação do petista foi anulada por questões processuais, e ele readquiriu o direito de disputar eleições. A pesquisa Datafolha foi realizada de 13 e 16 de dezembro com 3.666 pessoas, em 191 cidades. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos. Num cenário hoje improvável de segundo turno entre Lula e o ex-ministro Sergio Moro (Podemos), a maioria dos apoiadores de Bolsonaro em 2018 favoreceria o antigo titular da Lava Jato, em que pesem as hostilidades entre ele e o presidente.
Moro receberia 54% dos votos dos bolsonaristas, exatamente o dobro dos destinados ao petista, 27%. Num país em que a identificação dos eleitores com o sistema partidário costuma ser frágil, é Lula quem mais se beneficia no recorte da pesquisa feito com base neste critério. Como é natural, ele tem 91% das intenções entre os pesquisados que se declaram petistas, mas também está à frente entre eleitores do PSOL, com 63%, e do MDB, com 29%. Curiosamente, também obtém fatias relevantes em legendas de adversários diretos, como o PSDB de João Doria (11% das preferências) e o PL de Bolsonaro (10%).
O presidente é quem lidera entre os tucanos, apesar da guerra de palavras que tem travado contra Doria, especialmente no contexto da pandemia. Bolsonaro obtém 29% ou 30% a depender do cenário pesquisado, bem à frente do próprio governador de São Paulo, que fica com 15% entre os simpatizantes de seu próprio partido. Entre os tucanos, Doria fica atrás até de Moro, que acaba de entrar na disputa, e conta com o apoio de 25% a 26% dos pesquisados. No segmento dos que dizem não ter preferência partidária, que é majoritário, com 54% dos eleitores, há um empate técnico entre o atual presidente e o ex, mostrando equilíbrio entre eleitores que não seguem fielmente determinada legenda. Lula tem 30% neste grupo, contra 27% de Bolsonaro.
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