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SURTO DE GRIPE: CASOS DE H3N2 CRESCEM 1.380% EM SALVADOR

Redação - 15/12/2021 08:15

Aliadas à covid-19, as síndromes gripais preocupam a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador. E uma delas mais que as outras: a gripe por H3N2, uma variante do vírus Influenza A, que teve um aumento de 1.380% nos casos na capital, nos últimos 14 dias. Em 01 de dezembro, eram cinco pacientes registrados na cidade. Nesta terça-feira (14), já eram 74, de acordo com a SMS. Só nas últimas 24 horas, foram 21 confirmações de diagnóstico.

Por conta disso, o prefeito Bruno Reis (DEM), teve de reabrir o gripário do Pau Miúdo para reduzir a pressão por atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Barris, o único gripário até então em funcionamento e que teve a demanda triplicada na última semana.  De acordo com o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe da Fiocruz, um grupo que monitora os dados de notificação de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil, o surto que acontece em Salvador advém de uma nova mutação do H3N2 que surgiu no Hemisfério Norte no final do ano passado, chegou ao Rio de Janeiro, no segundo semestre, e se espalhou para outros estados, como a Bahia e o Amazonas.

“Hoje, a gente já sabe que o predomínio é de H3N2, mesmo sem o sequenciamento genômico, porque além do Rio de Janeiro com um cenário de epidemia, acaba respingando nas capitais e grandes centros do país, por conta da nossa malha aérea. Temos, diariamente, passageiros embarcando do Rio para as principais cidades do país e vice-versa. Isso faz com que o volume muito grande de casos no Rio se espalhe e, certamente, é a mesma variante”, afirma Gomes.

Para o especialista, a alta nos casos deveria ter sido no início da Primavera e não agora, a uma semana de começar o Verão. Ele acredita que isso se deva a dois fatores: a falta de adesão da população à campanha de vacinação da gripe e ao relaxamento das medidas restritivas para a covid-19. Apenas 58% do público esperado foi imunizado na campanha da prefeitura de Salvador contra a gripe, de acordo com a SMS. Apenas 416 das 720 mil pessoas esperadas estão imunizadas.  A meta era 90% de cobertura vacinal.

“Todas as ações que a gente adotou para prevenir o coronavírus têm impacto brutal para o vírus Influenza, porque o modo de transmissão é igual. Então é preciso usar boas máscaras, como a N95 e PFF2, principalmente se estiver em local fechado, e evitar aglomerações. Ano passado, conseguimos frear o Influenza por conta desses cuidados, mas começamos a baixar a guarda”, esclarece o pesquisador.  Ele ainda diz que a letalidade da gripe é extremamente alta: entre 12 a 15% dentre as internações. Ou seja, a cada 10 pessoas que se internam por gripe, pelo menos uma não sobrevive. Essa letalidade, no coronavírus, é quase o dobro – entre 20 a 30%, visto que ainda não há tratamento para a doença, como existe para os vírus Influenza.

Tipos de gripe

A professora de virologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da UniFTC, Andrea Mendonça Gusmão, explica que existem vários tipos de gripe. “Quando falamos de gripe, especificamos o Influenza vírus A ou B, que são duas espécies diferentes que podem causar a gripe. Temos várias cepas, porque são vírus RNA e têm alta taxa de mutação”, esclarece. A H1N1 e a H3N2 são variações do tipo Influenza A, que tem maior chance de causar surtos e epidemias, segundo a virologista.

Por conta do surgimento de novas cepas, é preciso tomar a vacina todos os anos. “Mesmo fazendo a vacinação adequadamente, todo ano é uma vacina nova, porque esse vírus tem uma taxa de mutação alta. A vacina que usamos na campanha de vacinação do SUS desse ano tem a H3N2, mas não é a mesma cepa que está se disseminando agora, é a do ano passado. Ou seja, estamos sempre atrasados em relação ao vírus, por isso que podemos ficar gripados mesmo vacinados”, afirma Andrea.

Vacina protege contra três tipos de gripe

A vacina disponível nos postos públicos de saúde é trivalente, protege contra três tipos de mutações da gripe, as mais graves: H1N1, H3N2 e uma cepa do Influenza B.  Os sintomas são os mesmos do coronavírus como mialgia (dor muscular), dor de cabeça, febre, falta de ar, cansaço e, às vezes, pneumonia. O tratamento, no entanto, é com um antiviral.

A aposentada Vera Lúcia se vacinou contra a gripe este ano, mas pegou a doençam, justamente por conta da explicação da virologista Andrea Gusmão, o vírus sofre mutações. Ela está com os sintomas desde sábado. “Uma dor de cabeça horrível, com frio, nariz escorrendo e tossindo muito. Desde sábado estou tomando tylenol de oito em oito horas e benegripe de seis em seis horas. Graças a Deus, me sinto melhor hoje, já consegui sair de casa”, conta Vera. Além dela, o neto, que mora no mesmo prédio, também pegou gripe.

Mesmo assim, o infectologista Claudilson Bastos, responsável técnico do serviço de imunização do Sabin Medicina Diagnóstica em Salvador, recomenda que o “melhor remédio” ainda é a vacina. “A influenza A, de tempo em tempo, reaparece, porque existe a sazonalidade viral. Diante disso, a gente considera que a vacinação para influenza é eficaz para diminuir a morbimortalidade da doença”, defende.

SMS faz alerta para as arboviroses

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) emitiu ontem um alerta para as arboviroses como a dengue, a zyka e a chicungunya. “O sistema de saúde é o mesmo para atender todas as doenças: covid, gripe, dengue, zika e chikungunya. O que nos preocupa, nesse momento, é que temos uma série de pacientes com doenças agravadas que ficaram com medo de ir às unidades durante a pandemia. Todas as doenças que podem e devem ser evitadas aliviam o sistema de saúde e melhora o atendimento à população”, alertou o secretário municipal da saúde, Leo Prates.

Ele diz que, apesar de o índice que mede a infestação do aedes aegypti em Salvador ter diminuído em relação ao ano passado, alguns bairros estão muito acima do normal. A média histórica de infestação é 2,3, ou seja, a cada 100 casas, 2,3 delas têm foco do mosquito. Agora, esse índice está em 2,1, o que é classificado como “em alerta” pelo Ministério da Saúde. Itapuã, no entanto, está com o índice em 10,2. Em Coutos 1 e Vista Alegre, a taxa está em 7,2 e, Fazenda Coutos, em 6. Os piores distritos sanitários de infestação de mosquito são as regiões de Itapagipe (3,9) e Subúrbio (3,9).

“A gente precisa que as pessoas combatam o mosquito dentro das suas casas, retirando vasilhames. Estamos fazendo a nossa parte, mas o sistema de saúde não vai suportar, ao mesmo tempo, uma nova onda de covid-19, um surto de gripe e um surto de dengue; além desses pacientes agravados que não se trataram na pandemia”, apela Leo Prates. Segundo ele, 80% dos focos das arboviroses estão dentro das casas e não nas vias públicas. “Isso é extremamente preocupante, diria que é um pré-surto. Não sei porque ainda não explodiu”, desabafa.

Para a SMS, a arbovirose que mais preocupa é a dengue, já que são quatro sorotipos. Em 2020, houve dois óbitos pela dengue e três pela chikungunya na capital. Em 2021, até agora, um caso de cada doença está em investigação. A pasta diz que tem feito inspeções nos domicílios em pontos estratégicos, colocando capas nos reservatórios que possam acumular água, além de inseticida especial. “A dica é tentar eliminar o que poderá armazenar água e se transformar em criadouro”, aconselha o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da secretaria, citando baldes, pratos de plantas e lixo.

Foto: divulgação

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