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DESMATAMENTO E POBREZA CRESCEM NA AMAZÔNIA, MOSTRA PESQUISA

Redação - 07/12/2021 07:45 - Atualizado 07/12/2021

O desmatamento e a extração ilegal de madeira e ouro condenam a Amazônia a uma economia pífia e à pobreza. Uma pesquisa do Imazon, que analisa o Índice de Progresso Social (IPS) nas 772 cidades da Amazônia Legal, revela que os municípios que mais desmatam são também o que apresentam as piores condições de vida da população. Enquanto o IPS do Brasil está em 63,29, os 20 municípios que mais destruíram a floresta nos últimos três anos apresentam um IPS médio de 52,38 — 21% menor que a média nacional e mais baixo também em relação ao da Amazônia (54,59).

Criado em 2013 para analisar as condições sociais e ambientais de países, estados e municípios, o IPS gera uma nota de zero a 100. Quanto mais alto o resultado, melhor. Se a Amazônia fosse um país, estaria no patamar de países como Camboja e Nigéria. São avaliados 45 indicadores, que vão de mortalidade infantil e materna a condições de moradias e mortalidade por doenças circulatórias e respiratórias, por exemplo.

Localizado à beira da Transamazônica, o município paraense de Pacajá é um bom exemplo da situação. Entre 2018 e 2020 ficou em sétimo lugar entre os que mais destruíram a floresta. Acabou com o segundo pior IPS da Amazônia, de 44,34. Da lista dos 20 maiores desmatadores da Amazônia, seis ficaram com menos de 50 pontos no IPS: Portel (PA), Apuí (AM), Senador José Porfírio (PA), Novo Repartimento (PA), Uruará (PA) e Anapu (PA). Há ainda nesse patamar municípios como Jacareacanga (PA), conhecido pelo garimpo ilegal.

Todos os estados da Amazônia estão abaixo da média nacional. Os indicadores piores são do Pará (52,94), que historicamente encabeça a lista dos desmatadores, e Roraima (52,37). — Estamos desmatando sem gerar riqueza. Além de não gerar desenvolvimento, o desmatamento mantém a Amazônia num abraço mortal de pobreza — afirma Beto Veríssimo, co-fundador do Imazon e um dos líderes do estudo. Veríssimo lembra que o município de São Félix do Xingu, no Pará, que foi o segundo que mais desmatou na Amazônia entre 2018 e 2020, emite mais carbono do que a cidade de São Paulo, que move a economia do país. A emissão de CO² é um dos indicadores do IPS.

Para ele, o desmatamento e as demais atividades ilegais na Amazônia só geram pobreza. Não compensam nem economicamente, nem socialmente. Altamira, também paraense, que ocupou o primeiro lugar no desmatamento no período de três anos, teve IPS de 53,95. São Félix do Xingu, 52,94. Os dois ficaram abaixo inclusive da média da Amazônia Legal. Em 2020, a Amazônia respondeu por 52% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil, mas gerou apenas 9% do PIB.

Para Veríssimo, a situação é vexatória e a região está no pior dos mundos, pois enfrenta triplo problema: crise ambiental, social e econômica. Os desmatamentos e a situação de ilegalidade, que gera violência, só afugentam investidores e ganham repercussão internacional. — A Amazônia virou tóxica para investimentos. Está ficando uma terra sem lei, a lei não é respeitada — define.

Para atrair investimento, diz Veríssimo, é preciso predominar o estado de direito, o que não tem acontecido. Ao contrário, ciclo de degradação e pobreza faz com que a região não se desenvolva e crie poucas ilhas de razoável prosperidade. O baixo progresso social é medido também pelo acesso à telefonia e à banda larga de internet. Na situação atual, afirma o especialista, a Amazônia sequer consegue atrair mão de obra especializada e permanece numa posição incompatível com a importância que ela tem para o resto do mundo.

— O que trava é o descalabro ambiental. A Amazônia conviveu nas últimas quatro décadas com o desmatamento, que não entregou nem progresso social e nem desenvolvimento econômico – avalia. Veríssimo afirma que a solução para a Amazônia é uma escolha política. Segundo ele, é preciso asfixiar a economia ilegal com medidas duras e abrir espaço para investimentos em alternativas como sistemas agroflorestais, restauração florestal e pecuária intensiva.

— A pauta de desenvolvimento não é cara. Mas antes é preciso tirar a Amazônia da UTI com uma terapia de choque contra o desmatamento — resume. Em relação a 2018, última edição do IPS para a região, dos 772 municípios amazônicos avaliados quase metade (49%) teve redução na nota e 21% permaneceram estáveis. Apenas 2% dos municípios da Amazônia têm IPS acima da média nacional. O grupo é formado por 15 cidades e cinco delas são capitais. Cuiabá (MT) encabeça a lista, seguida por Palmas (TO), com IPS de 74,42 e 70,23, pela ordem. Nessa lista estão também municípios que se tornaram polos regionais, como Rondonópólis e Primavera do Leste, por exemplo, ambas no Mato Grosso.

Foto: divulgação

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