Com a imagem arranhada por sucessivos revezes da Lava Jato, criticado pelas controvérsias em torno de sua atuação no caso e tratado como traidor entre apoiadores leais do governo que ajudou a eleger, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro estava longe dos holofotes. Tido antes como peça de valor no jogo político, Moro entrou em processo de submersão. No espaço de duas semanas, contudo, ressurgiu em galope acelerado, que culminou com a filiação ao Podemos na última quarta-feira. Com isso, engarrafou ainda mais a já congestionada terceira via da sucessão.
Embora não tenha colocado oficialmente o nome no páreo para 2022, Moro se soma a uma lista que conta agora com dez virtuais candidatos à Presidência da República. Quatro deles trabalham intensamente para se consolidar como alternativa ao presidente Jair Bolsonaro, prestes a entrar no PL, e ao ex-presidente Lula (PT): o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o cientista político Luiz Felipe D’Ávila (Novo) e os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, envolvidos em uma disputa fratricida para representar o PSDB nas urnas.
A lista da terceira via inclui também o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e outros dois senadores – Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB). Por fim, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio também concorre contra Doria e Leite nas prévias do PSDB, apesar de considerado azarão na guerra dentro do ninho tucano. Moro desponta como o décimo presidenciável, mas foi alçado de imediato à turma dos postulantes com maior probabilidade de virar candidato na corrente anti-Lula e anti-Bolsonaro, jocosamente apelidado de “nem-nem”.
O poder de Moro para acirrar o congestionamento na fila se deve à densidade eleitoral detectada em pesquisas realizadas desde que ele anunciou o ingresso no Podemos. Em todas elas, o ex-juiz aparece ligeiramente à frente de Ciro, até então com posição firmada no terceiro lugar, ou colado ao pedetista. No levantamento Genial/Quaest, realizado entre os último de 3 a 6 de novembro e divulgado pela imprensa no último dia 10, o ex-juiz desponta com 8%, contra 6% de Ciro. Ambos muito abaixo de Lula e Bolsonaro, respectivamente, líder e vice-líder, mas bem acima dos demais nomes da terceira via.
A sondagem Exame/Ideia, publicada pelo site da revista econômica na sexta-feira, mostra a mesma tendência, sendo que Ciro obteve a preferência de 7% dos 1.200 entrevistados entre terça e quinta, ante 5% de Moro. De acordo com a pesquisa, os dois surgem como alternativas mais viáveis da relação de presidenciáveis com musculatura para romper a polarização Lula-Bolsonaro. Embora sejam superados pelo petista nas simulações de segundo turno, o ex-juiz está tecnicamente empatado com o atual presidente, por sua vez, superado pelo pedetista.
Em contrapartida, junto com Doria, Moro e Ciro concentram os mais altos índices de rejeição entre os nomes da terceira via, segundo o levantamento Exame/Ideia. Os dois primeiros são recusados por 19% dos eleitores ouvidos, dois pontos percentuais à frente do presidenciável do PDT. O restante oscila entre 11% e 4%. Entretanto, estão longe de superar a impopularidade de Bolsonaro (44%) e Lula (37%), ainda que esses percentuais não signifiquem pista livre para quebrar a polarização.
Fora Moro, Ciro, Mandetta e o tucano vencedor das prévias, seja Doria ou Leite, Alessandro Vieira e Luiz Felipe D’Ávila estão decididos a concorrer. Tanto o senador do Cidadania, que se tornou uma das grandes surpresas de 2018 ao derrotar grupos tradicionais do poder em Sergipe, quanto o candidato do Novo apostam no voto de opinião, aglutinado em torno da onda de renovação política surgida há cerca de meia década. Os demais não demonstram claramente intenção de se aventurar na corrida presidencial e talvez entraram no páreo preliminar para fortalecer o passe em negociações na chapa nacional ou nos estados.
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