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O  AUXÍLIO SOCIAL É DIFERENTE DO BOLSA FAMÍLIA E NÃO BASTA PARA REELEGER BOLSONARO

Redação - 25/10/2021 10:08 - Atualizado 25/10/2021

Há dúvidas entre os analistas políticos com relação à capacidade do auxílio social de R$ 400,00, criado pelo presidente Bolsonaro e chamado de Auxílio Brasil, de aumentar sua popularidade e garantir a reeleição. O Auxílio Brasil deve atingir cerca de 17 milhões de pessoas e será fundamental para a sobrevivência de muitas famílias, mas não há correlação direta com o voto em Bolsonaro e tampouco a certeza de que o efeito será semelhante ao causado pelo Bolsa Família.

Estrategistas políticos erram ao supor que o povo vai votar no governante que simplesmente colocou um pouquinho mais de dinheiro no seu bolso. Não é assim que funciona. O Bolsa Família tornou-se um programa de forte componente eleitoral porque foi criado e implementado no bojo de uma estratégia que colocava a ascensão da classe mais pobre como uma política de governo e essa estratégia tinha um componente político: o fato de pela primeira vez um operário ter chegado a Presidência e começado a criar diversos programas sociais, injetando no imaginário popular a ideia de que  “a vida começava a melhorar” e que agora “havia alguém como eles no poder”.

Assim, o Bolsa Família tinha um componente político fortíssimo que foi potencializado por um componente econômico também fortíssimo: o fato da economia brasileira ter tido um dos melhores momentos de sua história recente, no primeiro governo Lula, com taxa de desemprego em baixa, dólar sob controle, inflação baixíssima e por aí vai. Foi isso que potencializou o Bolsa Família e fez o pobre ter iogurte na mesa, comer carne e fazer churrasco, comprar casa no Minhas Casa Minha Vida e andar de avião. Era a emergência da Classe C. Ora o Bolsa Família era uma política de governo implantada num período de crescimento econômico e por isso ficou no imaginário popular, como um período de prosperidade.

E o que temos agora: um auxílio social criado em meio a uma enorme crise econômica, com inflação de 10% ao ano, dólar nas alturas e 14 milhões de desempregados. E o que é pior, sua criação feita em cima do descontrole fiscal e do furo no teto de gastos, o que significa que a crise econômica tende a piorar. Ou seja, a população terá a exata medida que o auxílio veio em forma de casuísmo, que vai ajudar na sobrevivência, mas está desvinculado do compromisso com um país melhor. E esse componente eleitoreiro foi confirmado com um esdrúxulo  “auxílio diesel” a 750 mil caminhoneiros.

O cientista político Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria Eurasia Group, lembra, por exemplo, em declaração ao jornal Valor Econômico,  que a mudança no teto, como está colocada, pode provocar depreciação do câmbio, dificuldade de o Banco Central ancorar expectativas, afetar ainda mais o crescimento do PIB, além de acarretar mais altas nos preços de combustíveis e inflação. Ora, com isso a vida dos 17 milhões de famílias que terão o benefício vai continuar difícil e a ajuda será apenas “a esmola para passar a crise” enquanto o restante da população, que sentirá os efeitos econômicos, puxará para baixo a popularidade de Bolsonaro.

“Vejo as repercussões negativas da quebra do teto como sendo um passivo maior para o presidente do que qualquer ganho com aumento do auxílio. Para ser direto, me parece que politicamente, eleitoralmente foi um tiro no pé”, afirma Garman.

Aliás, a  cientista política Andréa Freitas, professora da Unicamp, disse ao Valor Econômico que, além de não haver relação direta entre auxílio e aprovação, o movimento de Bolsonaro em direção aos mais pobres está atrasado. “Teremos que esperar alguns meses para ver o efeito disso nas famílias, mas por ora eu imagino que ele perdeu o ‘timing’ da política populista”, diz ela.

Claro, a estratégia de Bolsonaro é chegar ao segundo turno, e aí estabelecer a polarização com Lula, que é fundamental para sua reeleição, mas o Auxílio Brasil não parece suficiente sequer para leva-lo ao segundo turno, a não ser que a situação econômica dê sinais melhora nos indicadores, especialmente na taxa de desemprego.( EP- 25/10/2021).

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