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ARMANDO AVENA: O DÓLAR ESTÁ ENCURRALANDO A ECONOMIA – COLUNA NO JORNAL A TARDE:

Redação - 14/10/2021 06:53

A economia brasileira está em meio a uma tempestade que tem como ingredientes uma inflação de 10% ao ano, juros que devem terminar o ano beirando os 9%, um problema fiscal escondido por causa da inflação, mas não resolvido; uma taxa de desemprego alta e um desequilíbrio cambial que está desestruturando a economia brasileira e cuja explicação transcende os fundamentos da economia. Em poucas palavras: a absurda desvalorização do real, que levou a cotação do dólar a R$ 5,50 esta semana não faz sentido em uma economia que possui reservas superiores a 400 bilhões de dólares e que registrou nos primeiros oito meses do ano, só na balança comercial, um aumento de quase 50% do saldo positivo, em relação a 2020, gerando uma entrada de dólares de 58 bilhões, um recorde histórico.

Como explicar que com tanto dólar entrando no país, a cotação da moeda americana continue subindo, a revelia a lei da oferta e da procura? E como explicar que o dólar tenha começado o ano de 2020, valendo R$ 4,02, e que o real tenha se desvalorizado quase 40% desde então, sendo uma das cinco moedas que mais se desvalorizaram no mundo? Há algo estranho nessa matemática que não é possível explicar. E o mais grave é que a desvalorização do dólar é um dos responsáveis pela inflação de dois dígitos e pelos juros altos. Dos 10,25% da inflação em 12 meses, registrada este mês, a gasolina foi de longe o principal item representando 2% sobre o indicador geral; e o aumento do gás de cozinha foi responsável por cerca de 0,40%, o que significa que quase 2,5% da inflação brasileira é devido a aumento nos combustíveis e este aumento tem como principal fator a valorização do dólar.

Aumentos decorrentes do custo dos insumos e matérias primas também tem relação com o dólar alto e, embora o aumento da inflação tenha outros componente que incluem a desestruturação nas cadeias produtivas, a alta nos preços internacionais das commodities e os gastos do governo por conta da pandemia, esses fatores foram potencializados por uma desvalorização exagerada do real. E aqui chegamos ao dilema brasileiro, pois o desequilíbrio na cotação da moeda americana decorre fundamentalmente da instabilidade política e da incerteza com o futuro, aliado à insegurança na gestão fiscal.

E isso não se resolverá em 2022, pelo contrário, esses fatores devem se agravar a medida que a eleição se aproxima, o que simplesmente condena o país a ser regido pelo ciclo perverso de inflação e juros em alta até o início de 2023.  E a essa altura não há muito o que fazer, a não ser uma postura rígida das autoridades monetárias garantindo a austeridade fiscal, o que não parece provável já que os furos no orçamento estão cada vez mais visíveis.

                                               A ECONOMIA DA BAHIA

 O fechamento da Ford criou uma visão da economia baiana em alguns fóruns que não corresponde à realidade. Fala-se, por exemplo, que as economias de Pernambuco e Ceará estariam ultrapassando a Bahia. É um disparate. O PIB da Bahia, segundo o IBGE, é quase o dobro do PIB do Ceará e quase 60% maior que o de Pernambuco. É certo que a indústria baiana vem perdendo participação não só por conta do fim da produção de veículos, mas também por causa da RLAM que opera a 50% de sua capacidade, mas em contrapartida o agronegócio só faz crescer. Voltarei a esse assunto, mas por enquanto basta dizer que a Bahia é a maior economia do Norte e Nordeste do país e maior que muitos países da América Sul.

                              A MENTIRA DO CONSIGNADO

 O Brasil está conseguindo desmoralizar o crédito consignado. Se o leitor for buscar um empréstimo consignado no mercado, vai perceber que, na maioria dos bancos, as taxas cobradas são as mesmas do empréstimo pessoal.  E, no entanto, esse é um crédito sem risco, com desconto direto das parcelas no contracheque, e por isso deveria ter juros bem mais baixos do que as demais modalidades. Esse crédito vale para servidores públicos e pensionistas do INSS e deve ser limitado a até 40% da renda líquida. Mas, apesar de ter risco zero, as taxas cobradas pelos bancos variam de 1% até 3% ao mês e são em muitos casos maiores do que as taxas dos empréstimos pessoais, algo que só se vê no Brasil.

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