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PLENÁRIO DA CÂMARA IRÁ USAR OFFSHORE PARA COBRAR DE GUEDES 

Redação - 08/10/2021 07:18

Embora não tenha montado operação de defesa de Paulo Guedes (Economia) após a revelação de que ele tem investimento milionário em uma offshore, o governo Jair Bolsonaro espera conter o enfraquecimento do ministro após ele comparecer à Câmara —que o convocou para prestar esclarecimentos. A aposta é que o desgaste deve ser reduzido depois de o ministro apresentar as explicações sobre o caso. No entanto, interlocutores do governo afirmam que será mantido o cenário de dificuldade para aprovação de medidas da equipe econômica.

Mesmo aliados de Bolsonaro querem que o ministro dê à Câmara uma indicação do rumo da política econômica e medidas para retomar o emprego, reduzir a inflação e acelerar o crescimento do país. A tarefa de Guedes, portanto, será mais ampla do que falar sobre a offshore. Uma ala governista no Congresso, inclusive, não crê em um cenário em que o ministro permanecerá até o fim do governo. A crise na economia afeta a popularidade de Bolsonaro, que pretende tentar a reeleição.

Colegas de Guedes e congressistas aliados do governo não vieram a público em defesa do ministro. Reservadamente, membros da ala política afirmam que ele precisa dar explicações sobre a offshore. Parte dessas autoridades avalia que o ministro está demorando muito para fazer esclarecimentos de forma transparente, em declaração pública, com apresentação de documentos. Até o momento, o ministro apenas se pronunciou por meio de notas. Na quarta-feira (6), a Câmara aprovou convocação para que Guedes compareça ao plenário, procedimento incomum. A votação teve apoio de partidos da base.

Membros das legendas de apoio a Bolsonaro não pretendem tentar blindar o ministro na sessão que terá sua presença. A visão é que Guedes precisa dar esclarecimentos. A avaliação é que o chefe da Economia de fato foi beneficiado por guardar recursos no exterior. Além disso, como o país passa por situação econômica delicada, com escalada da inflação, congressistas afirmam que não estão dispostos a ir à tribuna em defesa do ministro. Por isso, deputados da oposição devem usar a oportunidade para ampliar o desgaste.

O caso da offshore foi usado como gatilho para a presença de Guedes na Câmara em um momento em que o ministro se enfraquece e será cobrado também sobre a condução da economia. “É um fato relevante [offshore], e o Congresso quer uma explicação. Mas Guedes é muito prestigiado pelo presidente”, disse o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O deputado tentou —sem sucesso— transformar a convocação em um convite para Guedes se explicar na Casa. No caso da convocação, a presença é obrigatória.

Mas, mesmo na base do governo, há insatisfação com o ministro por ele já ter cancelado diversas participações em comissões da Câmara. Barros afirmou que Guedes vai se sair muito bem. “Depois das explicações dele [Guedes], vamos voltar a andar com a agenda econômica. Mas continuamos com questões internas no Congresso em relação a esse assunto, como as questões internas no Senado [que tem analisado as pautas em ritmo mais lento], e as dificuldades que já tínhamos, como na reforma administrativa”, afirmou Barros.

Antes do caso da offshore, o governo já passava por percalços para avançar com a agenda econômica no Congresso. A aposta de líderes governistas é que Guedes consiga virar a página ao ir à Câmara, eliminando um eventual entrave à pauta do ministro no Legislativo. Caberá a Guedes reconquistar a confiança perdida entre os partidos políticos, afirmam congressistas.

O caso da offshore não é insignificante, mas membros do centrão também se irritaram com atitudes recentes do ministro, inclusive por ter ido apoiar a reforma tributária do Senado nesta semana enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tentava avançar em uma proposta para amenizar o impacto do aumento do preço dos combustíveis.

Aliados de Guedes afirmam que a defesa do ministro e os documentos apresentados às autoridades deveriam encerrar a polêmica em torno do assunto. Os papéis foram entregues à PGR (Procuradoria-Geral da República) na quarta, antecipando-se a eventuais pedidos. O principal ponto da defesa é dizer que o ministro não ocupa o cargo de administrador da empresa Dreadnoughts, citada em reportagens da Pandora Papers, desde que assumiu o cargo no governo. Segundo os advogados, ele está completamente afastado da gestão desde dezembro de 2018.

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