Especialistas do setor portuário e representantes de empresas de contêineres avaliam que a falta generalizada de contêineres nos portos brasileiros, situação que tem atrasado em vários dias a exportação da indústria e do agronegócio e multiplicado o preço do frete, não é um efeito passageiro e ainda vai se arrastar por um longo período, com impacto direto na balança comercial e na inflação. A situação tende a apresentar alguma melhora no início do ano que vem, mas que só vai normalizar, efetivamente, no segundo semestre de 2022.
Segundo o jornal Estadão, o estrangulamento do setor deve-se, basicamente, aos efeitos que a pandemia da covid-19 causou em todo o mundo, retraindo operações logísticas com a paralisação ou redução de quase todas as atividades. Agora, com a retomada econômica em boa parte dos países, as grandes caixas de lata tornaram-se um dos itens mais disputados, e o Brasil está longe de ser um grande usuário dos contêineres, quando comparado com gigantes asiáticos e os Estados Unidos.
“Basicamente, temos visto que o atraso médio nos portos tem aumentado de forma significativa. Em 2020, o tempo médio de atraso foi na ordem de cinco dias em todo o mundo. Em agosto de 2021, passa dos sete dias, na média global. Em alguns portos, a situação chega a ser ainda pior”, diz o pesquisador Thiago Guilherme Péra, coordenador do Grupo de Logística da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
Já o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Transportadoras de Contêineres (ABTTC), Wagner Rodrigo Cruz de Souza, afirma que no porto de Santos (SP), por exemplo, o maior da América Latina, saídas que normalmente eram atendidas com frequência semanal passaram a ter escalas a cada 10, 11 ou 12 dias, retendo no porto um volume considerável de cargas destinadas à exportação. “Infelizmente a expectativa é que só será percebida uma leve melhora no cenário a partir de janeiro de 2022, podendo a situação ser equacionada, de fato, só no fim do segundo semestre de 2022, e isso desde que ocorram algumas transformações no mercado exportador brasileiro.”
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil