O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursou pela primeira vez na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, na abertura dos debates dos chefes de Estado nesta terça-feira (21). O democrata pediu atenção ao combate contra a Covid-19, defendeu a moderação no uso do poderio militar americano e chamou atenção para as mudanças climáticas. “Bombas e balas não servirão para defender o mundo da Covid-19 e de suas variantes”, disse Biden.
Ao abrir o discurso, Biden colocou a pandemia e possíveis novas crises sanitárias como um exemplo de que o mundo está diante de um “ponto de inflexão”. O presidente dos EUA, então, chamou atenção para as decisões desta década que, segundo ele, influenciarão todo o curso da História. “Nós nos encontramos em um momento de grande dor, mas de oportunidade extraordinária”, afirmou.
Os Estados Unidos passam por um momento complicado na pandemia de Covid-19, com um novo pico de casos e de mortes causadas pela doença. O ritmo da vacinação, que começou acelerado, estagnou diante da resistência de americanos a tomar a vacina. Em alguns estados, nem 50% da população está imunizada.
Afeganistão e terrorismo
Biden defendeu brevemente a retirada dos militares americanos que estavam no Afeganistão desde 2001 — ocupação considerada a mais longa guerra travada pelos EUA. “Terminamos 20 anos de conflito no Afeganistão, e estamos abrindo uma nova era de forte diplomacia, de uso do poder de nossa ajuda no desenvolvimento para investir em novas formas de ajudar os povos mundo afora”, discursou.
“Vamos provar que, não importa quão desafiadores ou complexos sejam os problemas, governos do povo e para o povo ainda são a melhor forma de trabalhar para todas as pessoas”, concluiu Biden, sem mencionar diretamente nenhum país ou organização. O presidente dos EUA enfrenta uma crise de popularidade, com a menor aprovação desde que assumiu o cargo, potencializada pela tomada de Cabul pelo Talibã — a opinião pública americana avalia que a Casa Branca não conseguiu garantir a paz no Afeganistão durante a retirada dos militares dos EUA em missão no país asiático.
No discurso desta terça, ele não mencionou diretamente o Talibã. Porém, Biden — sem citar grupos ou países — afirmou que “a dolorida ferroada do terrorismo é real”. “Os EUA não são mais o mesmo país que foi atacado em 11 de setembro, há 20 anos. Hoje, somos melhor equipados para detectar e prevenir ameaças terroristas e somos mais resilientes na nossa capacidade de combatê-las”, disse, voltando a citar a democracia como melhor forma de evitar o nascimento de facções terroristas. “Um dos mais importantes jeitos que realmente podem melhorar a segurança e evitar violência é melhorar a vida das pessoas do mundo que percebem que seus governos não estão atendendo a suas necessidades”, completou.
Relação com outros países
Biden também tentou mostrar os EUA como um país “de volta à mesa em fóruns internacionais” e citou a Organização Mundial da Saúde (OMS) — uma indireta para o ex-presidente Donald Trump, que anunciou no fim de seu governo que o país deixaria o órgão sanitário por discordâncias sobre a China. Ao discursar, o presidente dos EUA reforçou a importância do Indo-Pacífico — ou seja, países na Ásia e na Oceania que a Casa Branca tem visto como essenciais diante das pretensões comerciais e militares da China — e sinalizou também um afago à União Europeia, cujos países historicamente são aliados dos americanos.
A declaração vem na sequência de uma crise aberta com os países da União Europeia, especialmente a França, depois que os EUA firmaram um acordo militar com Reino Unido e Austrália. Essa negociação incluiu um contrato de construção de submarino que irritou Paris porque os franceses já conversavam com os australianos sobre esse tipo de embarcação. A crise chegou ao ponto de o chanceler da França chamar o acordo de “facada nas costas”, e o presidente Emmanuel Macron convocou os embaixadores nos EUA e na Austrália para consultas — o que, na linguagem diplomática, funciona para demonstrar grave descontentamento.
Foto: divulgação