A ação autorizada pelo Ministério de Minas e energia de liberar mais água das usinas hidrelétricas no curso do São Francisco foi duramente criticada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, que tem governos estaduais e usuários do rio entre seus integrantes.
O objetivo do governo é gerar mais energia na região Nordeste e transferir esse excedente para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde está a pior situação dos reservatórios no país.
Para o comitê, no entanto, essa estratégia pode trazer de volta a ameaça de colapso hídrico vivenciada pela bacia há poucos anos e colocar em risco a segurança no abastecimento de 2022 em diante. O que fez o presidente do comitê, Anivaldo Miranda, cobrar estudos mais aprofundados à Agência Nacional de Águas (ANA).
Até que se haja uma conclusão, o que ficou estabelecido na terça-feira, após reunião da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), foi que a usina de Três Marias (MG) passará a liberar até 650 litros por segundo nos próximos três meses. Já a represa de Sobradinho (BA) terá uma defluência máxima de 1. 1.500 litros por segundo em setembro, chegando a 2.500 litros em outubro e novembro.
Para ter uma ideia do que significam esses volumes: na década passada, em meio à seca que levou a bacia do São Francisco a uma situação dramática, a vazão foi reduzida para menos de 100 litros por segundo em Três Marias e apenas 550 litros por segundo em Sobradinho. Seus reservatórios atingiram uma marca, respectivamente, de 6% e 2% no auge da estiagem em 2017.
Foram anos de restrições no uso do rio – incluindo até proibição para captar água todas as quartas-feiras – com o objetivo de evitar o esvaziamento das represas e uma lenta recomposição do volume útil, principalmente em Sobradinho. Os reservatórios só foram ter novamente uma alta, e de cerca de 50%, em 2020, no período das chuvas,
Agora, diante da ameaça de racionamento, o governo resolveu virar pelo avesso a tática e maximizar a produção de energia nas usinas do Velho Chico. “Em pouco tempo, isso pode levar a bacia ao caos. É como se a calha do São Francisco estivesse sendo transportada de helicóptero para o Sudeste”, diz Anivaldo Miranda. “Os reservatórios do São Francisco demoram anos para se recuperar. Basta um atraso relevante na volta das chuvas ou um período úmido muito abaixo da média que logo voltaremos a ter problemas graves”, conclui.
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