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MAM E IPAC SE COMPROMETEM COM DEMANDAS DA SOLAR DO UNHÃO

Redação - 17/08/2021 16:53

Os diretores do MAM (Museu de Arte Moderna da Bahia), Pola Ribeiro, e do IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia), João Carlos Oliveira, se reuniram com moradores da comunidade Solar do Unhão, vizinha do museu, nesta terça-feira, 17, e se comprometeram a atender as demandas do bairro. Uma comissão com 15 pessoas do território será recebida, nesta quarta-feira, 18, por um comitê envolvendo diversos órgãos do Governo da Bahia, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), e liderada pelo IPAC e pelo MAM. O objetivo é resolver a lista de reivindicações do grupo.

Entre elas, está a reforma de escada de acesso à praia das pedras; a liberação do acesso de ambulantes e moradores à Prainha (faixa de areia dentro do museu) por meio do Parque das Esculturas; a construção de uma quadra esportiva em área não tombada entre o museu e a comunidade; a pintura do muro de acesso ao bairro; entre outras questões do dia a dia do território, relacionadas, por exemplo, a capacitação e empregabilidade local.

A reunião desta terça-feira, que foi intermediada do IPAC, aconteceu na pista de acesso ao Solar do Unhão, entre o MAM e a comunidade, e tratou justamente dessas reivindicações dos moradores. O encontro selou o acordo e o compromisso do IPAC e do MAM com todas as pautas apresentadas pela comunidade.

A sinalização do museu e do instituto ocorreu um dia após a Associação de Moradores do bairro, o Museu Street Art Salvador (MUSAS) e o Coletivo de Entidades Negras (CEN) divulgarem publicamente manifesto crítico à atual gestão do equipamento cultural por causa dos desrespeitos à comunidade.

Os moradores do Solar do Unhão programavam manifestação para às 13h desta terça-feira, durante a reabertura do museu, que acontece nesta terça-feira após oito anos de obras e um investimento total de R$ 30 milhões.

O protesto chegou a ser iniciado, no entanto duas viaturas da Polícia Militar da Bahia (PM-BA) impediram a continuação da manifestação, o que gerou revolta na comunidade e aumentou a temperatura na frente do MAM. Contudo, após a chegada do diretor do IPAC, João Carlos Oliveira, minutos depois, os PMs foram orientados a ir embora do local. Assim, a comunidade retomou o diálogo e prosseguiu com a reunião de negociação, que teve ata assinada pelos presentes.

Antes da manifestação e da reunião de negociação, os diálogos com o MAM estavam interrompidos devido a destratos praticados pelo diretor do museu com lideranças da comunidade e o desprezo demonstrado pela direção do espaço às pautas apresentadas pelos moradores nas mesas de conversas até então.

Em manifesto divulgado nesta segunda-feira, 16, os representantes comunitários chamaram a gestão do museu de “racista”, apontando inclusive a instalação de arames farpados nos muros que separam o equipamento do Solar.

Segundo as lideranças, a forma de tratamento do atual diretor do MAM, Pola Ribeiro, e de outros gestores anteriores com a comunidade desrespeita tratados e legislações internacionais às quais o Brasil se submete e que preconizam a interação social do patrimônio com o entorno.

É o exemplo das orientações da UNESCO, que determinam, desde a XV Assembléia Geral de Icomos, corrida em 2005, em Xi’An, na China, nesse sentido. A mesma regra também está prevista na primeira parte do artigo 7º da Carta de Veneza e, pior ainda, na própria concepção de Lina Bo Bardi, a arquiteta ítalo-brasileira que idealizou o MAM e tantos outros equipamentos culturais do Brasil. “Lina Bo Bardi está do nosso lado. Eles que estão do outro”, diz manifesto dos moradores, que circulou nas redes sociais.

No texto, o museu é classificado como “referência opressora e imperialista para o povo que vive com tanta dificuldade na comunidade”.

O sonhado espaço esportivo da comunidade já havia sido garantido por meio de Emenda Parlamentar do deputado federal Valmir Assunção, que disponibilizará o valor, mas a Direção do MAM resistia, até ontem, à ideia da instalação do espaço de, dizendo que era contra o equipamento de lazer. A posição, além de elitista, ia de encontro a todas as defesas conceituais feitas pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, responsável por projetar diversas unidades do SESC pelo Brasil, com o objetivo se que esses fossem espaços justamente de interação de arte, cultura, lazer e esporte.

O tratamento é diferente para as elites, contudo, que ganharam um píer e um atracadouro para estacionar suas lanchas. “O MAM acredita que é preciso píer e casarão para as elites, mas que não é necessário garantir o esporte e o lazer da comunidade do Solar do Unhão”, também consta no manifesto dos moradores.

Eles também apontam que, apesar do bloqueio da Prainha pelo MAM para acesso dos moradores, a faixa de areia segue cheia durante os finais de semana, ocupada pela elite que estaciona por lá com suas lanchas. A elitização do museu vai em rota de colisão com tudo que foi defendido pela sua idealizadora. “Não somos dignos, para eles, de circular pelo Parque de Esculturas. Devem achar que não sabemos quem são aqueles renomados e empolados artistas. Nos olham nos medindo da cabeça aos pés. Mas mal sabem eles quem somos. E que daqui não sairemos e que resistiremos até o último momento. Não topamos museu racista, não topamos uma elite que nos odeia! Somos defensores da cultura de um povo. Lina Bo Bardi está do nosso lado. Eles que estão do outro”, diz o texto divulgado pelos moradores.

Foto: Divulgação

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